O
noticiário sobre uniões homossexuais abençoadas por clérigos, em breve deixará
o campo do exótico para assumir lugar comum nos meio de comunicação em nosso
país. E isto é algo que os fiéis em Cristo devem encarar com certo grau
de naturalidade, bem como sinal de alerta e motivo de caótico
júbilo.
Com “naturalidade”, porque
o próprio Cristo e depois os apóstolos nos alertaram para estes tempos:
falsificações (falsos cristos e falsos profetas),escândalos, mentalidade pervertida(aumento da iniqüidade) e etc (Mateus 24).
Como
sinal, porque nos alerta para a necessidade de aumentarmos os nossos esforços
pessoais para viver uma vida de santidade (quem for santo,
santifique-se mais ainda – Apocalipse 22:11).
Com caótico
júbilo, porque estas coisas nos convidam a olhar para os céus e ver
que a nossa redenção se aproxima (Lucas 21:28). Cristo nos
convida a encarar estes tempos obscuros como uma mulher que sente dores de
parto; pois a dor da agonia é suplantada pela felicidade de uma criança vir ao
mundo (João 16:21). Assim, a realidade caótica deve servir
como preâmbulo do novo dia que se aproxima, porque quanto mais próxima a
aurora, mais fria é a madrugada.
Os
cristãos latentes ou simpatizantes com o cristianismo, algumas vezes questionam
o porquê da condenação da Igreja ao homossexualismo e o repúdio a grupos e
entidades que utilizem os sacramentos e símbolos cristãos para legitimar tal
prática.
Todo
o sacramento (este termo é a tradução latina do grego “misterion”)
é em essência um ícone de Cristo, ou seja, possui duas naturezas: a humana e a
divina. A sua dimensão visível está na forma (símbolo) que encerra uma
realidade invisível, incapaz de ser delineada por qualquer forma ou palavras;
realidades que transcendem toda e qualquer racionalização ou paradigma da
natural razão.
O
matrimônio, por exemplo, não pode ser reduzido ou encerrado aos limites da
sexualidade erótica, reprodutiva ou da satisfação psicológica. Estas dimensões
se fazem presentes no mistério (sacramento) do matrimônio, mas
não o encerra nela. Segundo o ensino apostólico (Efésios 5:31,32) o matrimônio
aponta para a união entre Cristo e a Igreja, para a realização do projeto
Divino de deificar a humanidade (João 17). A união homossexual
não alcança esta dimensão, uma vez que lhe faltam os elementos indispensáveis
para compor a imagem de Deus no homem (o macho e a fêmea – que formam uma
pluri-unidade); ou seja, à união homossexual, ou lhe falta o elemento masculino
ou o feminino, a bipolaridade necessária, reflexo (imagem, ícone) de Deus
(Gênesis 1:26). Sendo, em sua realidade última, a prefiguração da união entre
Cristo e a Nova Humanidade (Igreja), o matrimônio é um caminho espiritual que
nos leva à união com Deus e não encontra sua plenitude na mera satisfação dos
sentidos. Este é o vinho que se acaba e que foi primeiro servido por ser
julgado o melhor. No entanto, é o segundo vinho, aquele que foi transformado,
que surpreende a todos e confere perenidade à festa, conforme é narrado o
milagre em Caná da Galiléia, o primeiro sinal messiânico de Cristo entre os
homens (João 2:1-11). Não é por acaso que a Igreja Ortodoxa lê obrigatoriamente
este texto no Rito do Noivado e Matrimônio. É, portanto, muito significativo
que Cristo tenha iniciado seus sinais messiânicos exatamente em uma festa de
casamento, ícone verdadeiro da salvação Divina.
A filosofia
gay despreza esta dimensão sacramental porque ela é fruto da
mentalidade secular e materialista que se estabeleceu na sociedade ocidental,
que tem como uma de suas principais características o reducionismo do sagrado.
Nesta mentalidade a religião deve se limitar ao campo do privado e os conceitos
que dela emergem, subordinados aos das ciências humanas. Por isto
freqüentemente a religião é confundida com cultura e todos os seus componentes
- como, por exemplo, seus ritos e dimensões simbólicas - tratados como folclore
e suas compreensõesnão-científicas como mito. Daí que tudo que
provém do universo religioso deve ser tratado como relativo e circunstancial.
A
segunda razão pela qual a Igreja desaprova o homossexualismo está na herança
recebida dos nossos pais, ou seja, a Tradição Sagrada. Tanto na pedagogia da
Primeira Aliança (Velho Testamento), como na da Nova e Eterna Aliança (Novo
Testamento) existe reprovação à prática homossexual. Segundo o ensino
apostólico esta prática constitui um dos elementos que apodrece o tecido da
atual sociedade e que ficará de fora do mundo vindouro (a nova ordem cósmica a
ser estabelecida por Deus ou Nova Criação). Na antropologia apostólica, esta
prática é fruto de uma degeneração do conhecimento de Deus (Romanos1:18-31), não
sendo compatível ao novo homem que é criado segundo Deus (Efésios
4:24). Mas, na compreensão “gay”, toda esta pedagogia
não pode ser evocada porque ela faz parte de uma mentalidade pré-científica (e
aqui vem o reducionismo do Divino às limitações humanas do qual falamos antes).
É certo que alguns“exegetas” pro-homossexualismo, procuram abordar
estas tradições com falácias hermenêuticas, de maneira que todo texto que
condena o homossexualismo, num passe de mágica, passa a não dizer o que a razão
primeira compreende que eles estão dizendo. Estes, conforme nos diz São Pedro,
distorcem as Escrituras para suas próprias perdições.
Nenhum
dado “científico” aponta para uma dimensão gay do
ser humano, quer seja na anatomia, na fisiologia e na genética humana: nada nos
leva à esta direção. O resto são digressões científicas, estribadas em
hipóteses. As tendências homossexuais estão encerradas no campo psicológico,
numa configuração da alma que a ciência humana não conseguiu precisar clara e
seguramente: nem no que se refere à sua gênesis e nem quanto às suas estruturas
subjetivas.
Na
perspectiva da Teologia, o homossexualismo está situado na dimensão passional
da alma que sofre influências de elementos diabólicos [a tradição cristã chama
de diabolos literalmente, aquele ou aquilo que divide (dia) o
homem em si mesmo, que o dilacera; essa é, igualmente, a etimologia da palavra
hebraica shatan, “o obstáculo”, o que se opõe à unidade do
homem, à união com os outros, à união com Deus]. Trata-se sempre de discernir
no homem o que cria obstáculo à realização de seu verdadeiro ser, o que impede
o desabrochamento da vida do Espírito (Pneuma) em seu ser, seu
pensamento e seu agir [Jean-Yves Leloup, Os verdadeiros Filósofos]. No caso do
homossexualismo, o elemento diabólico o impede de desfrutar da interação com o
seu outro-oposto, frustrando sua vocação para a plena identidade
com Deus (imagem e semelhança).
Portanto,
a Igreja considera a prática homossexual como pecado (aquilo que nos faz
desviar do alvo), o que lha impede de abençoar as uniões gays com o sacramento
do Matrimônio. No entanto, devemos estar vigilantes para que a reprovação de
tais práticas não gere um estigma contra as pessoas que se sentem, a partir de
pulsões interiores, estimuladas a vivenciá-las. O pecado é uma deformidade da
alma - que tem muitas nuanças e características diversas – e que se faz
presente em toda a humanidade. Ninguém é mais pecador do que o outro por sentir
impulsos homossexuais. A cada um de nós se impõe o dever de resistir ao pecado
em sua multiforme manifestação (Gênesis 4:7). E nisto consiste a essência do
Cristianismo: o Amor que socorre e transforma. Deus, em Cristo, vem em socorro
do homem, não para despir de maldade as forças que subjugam nosso ser,
contemporizando com as tais, mas para triunfar sobre elas e nos resgatar da
tirania destes poderes. E para isto nos deixou, por meio do Seu Espírito, uma
série de recursos eficazes que nos auxiliam neste combate (2 Coríntios 10:3-5).
O amor de Deus convida a todos – sem descriminações – a participar desta Graça
a provar da Fonte Vivificante. Assim como uma semente só gera a vida se
primeiro morrer, também o é conosco. Só quando assumimos voluntariamente a
morte para o pecado poderemos experimentar a vida que vem de Deus. É isto que o
Cristianismo chama de nascer do alto, ou, novo nascimento.
Contudo,
é pertinente dizer, que o homossexualismo em si, não pode ser classificado como
imoralidade. A promiscuidade, sim, e esta pode ser de natureza homo ou
heterossexual. A questão da homossexualidade não é de natureza moral, assim
como o pecado também não o é. A imoralidade é um dos frutos do pecado. A raiz
da homossexualidade está na estrutura do ser, portanto é de natureza ontológica
e é uma das conseqüências do pecado.
Em
sua natureza terapêutica a Igreja se posta ao lado dos homens, não para lhes
legitimar as paixões, mas, sim, para ajudá-los a transfigurá-las. No caso do
homossexual a ação catequética buscará ajudá-lo(a) a compreender que as
compulsões que lhes direcionam a prática homossexual são de natureza
coercitiva, sim, mas não determinante. Instrui-los-á sobre como em Deus se
buscar o auxílio e as forças necessárias para o redirecionamento do desejo. Que
Deus nos fez seres relacionais numa fragmentação bipolar para que
encontrássemos a nossa unidade no outro (heteros- termo grego que
designa um objeto de natureza diferente). "Assim, deixará o homem
pai e mãe e se unirá à sua mulher. E serão os dois uma só carne" (Gênesis
2:24). A transfiguração das paixões é na maioria das vezes um processo lento e
as virtudes da paciência e da perseverança são indispensáveis neste processo.
A
Madre Maria (Skobtzoff), uma monja ortodoxa que vivia na França no período da
2ª Guerra e foi martirizada por proteger judeus da perseguição nazista, em seu
estudo sobre o Segundo Mandamento do Evangelho (amar ao próximo como a si
mesmo), esboça as grandes linhas de uma ascese de encontro e de amor. Diz a
santa monja:
“É necessário evitar projetar o próprio psiquismo sobre os demais. É necessário compreender o outro em um extremo despojamento de si, até descobrir nele a imagem de Deus. Então se descobre de que modo essa imagem pode estar apagada, deformada pelos poderes do mau". (A Oração do Coração, Olivier Clèment).
Vê-se o coração do homem como o lugar onde o bem e o
mau, Deus e o diabo, travam uma luta incessante. E se deve intervir nesse
combate, não pela força exterior, que não poderia chegar mais que a este "pesadelo
do mau- bem", do bem imposto, denunciado por Berdiaev, senão pela
oração:
"Pode-se intervir, se se coloca toda confiança em Deus, se se despoja de todo o desejo interessado, se, tal como Davi, se joga fora suas armas e entra no combate sem outra arma que não seja o Nome do Senhor. Então o Nome, chegando a ser Presença, inspira-nos as palavras, o silêncio, os gestos indispensáveis” (Ibid).
O mundo contemporâneo sofre de grande confusão mental.
São muitas vozes falando coisas diferentes. A tendência da mente, diante do que
é confuso, é relativizar os elementos e classificá-los como a verdade de cada
um. No Éden, a primeira estratégia do Diabo foi a confusão dos conceitos e
apelar para os impulsos do desejo (Gênesis 3:1-6). A Igreja deve ser paciente com
os que são cativos por esta confusão e canalizar todas as suas forças
espirituais em favor da salvação de todos, com amor e verdade que são em Deus,
realidades convergentes:
“A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram"[Salmo 84:10 (85:10)]
Por isto a Igreja rechaça com
veemência as vozes "teologais" que se levantam em
apologia à prática homossexual porque vê nelas a fala de Satã (o opositor), que
busca impedir o encontro da humanidade com Aquele que é a Fonte de todo bem, da
nossa unidade e plenitude. Rejeita-se àqueles que adulteram o ensino Divino (2
Coríntios 4:1,2), os quais usando de artifícios retóricos e dissimulações,
procuram desviar os indoutos da verdade, prometendo-lhes libertação quando eles
mesmos são escravos de suas paixões (2 Pedro 2:-19). Tendo aparência de
piedade, mas negando-lhe a eficácia (2 Timóteo 3:5). Despossuídos de todo senso
(2 Timóteo 3:13), falam de forma soberba procurando impressionar julgando-se
possuidores de ciência (Judas 16). Muitos destes saíram do meio de nós e
criaram para si grupos que indevidamente chamam de igrejas. Usam de
adjetivações pejorativas (homofóbicos, preconceituosos, discriminatórios e etc)
visando desqualificar os que ensinam a verdade.
Mas, o Supremo Juiz virá
repentinamente e as obras de cada um serão reveladas.
Seja sobre nós a Graça do nosso Deus.
Pe. Mateus(Antonio Eça)
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