
“Na última Ceia, na noite em que foi entregue, nosso Salvador instituiu o Sacrifício Eucarístico de seu Corpo e Sangue. Por ele, perpetua pelos séculos, até que volte, o sacrifício da cruz, confiando destarte à Igreja, sua dileta esposa, o memorial de sua morte e ressurreição: sacramento da piedade, sinal da unidade, vínculo da caridade, banquete pascal em que Cristo é recebido como alimento, o espírito é cumulado de graça e nos é dado o penhor da glória futura.” (Catecismo da Igreja Católica, 1323)
O mistério Eucarístico é a doação que Jesus Cristo faz de si mesmo, revelando-nos o amor infinito de Deus por cada homem. Na Última Ceia, Jesus nos deixou uma das provas de que está conosco todos os dias, em cada momento e lugar onde a Santa Missa é celebrada. O pão e o vinho se tornam Corpo e Sangue de Cristo, que nos alimentam e nos preparam para a vida eterna.
A presença real de Cristo na Hóstia Santa nos leva a celebrar a Solenidade de Corpus Christi, pela qual professamos publicamente nossa fé nesse Admirável Sacramento. Entre os cristãos, notamos que nem sempre houve compreensão da presença real de Cristo na Sagrada Eucaristia e até hoje esse fundamento é por vezes esquecido. É um mistério ao qual inclinamos a nossa inteligência e nos apropriamos da fé. De fato é algo inexplicável, tanto que, após a consagração eucarística, o sacerdote proclama: “Eis o mistério da fé”. Mas Deus, na sua infinita bondade, por diversas vezes proporcionou a visualização daquilo que sempre ocorre em cada celebração eucarística: o pão e o vinho deixam de ser pão e vinho e transformam-se no Corpo e no Sangue de Cristo.
Desde os primórdios do cristianismo percebemos o desenvolvimento da doutrina a respeito do dogma da presença real de Cristo na Eucaristia, que mais tarde será denominado transubstanciação.
Santo Inácio de Antioquia (67-110), na Epístola aos Esmirnenses afirma: “A Eucaristia é a carne de nosso Senhor Jesus Cristo, que padeceu por nossos pecados, e que o Pai, em Sua bondade, ressuscitou”.
São Justino de Roma (100-165), ensinando a respeito da Teologia da eucaristia, afirmou:
“Este alimento se chama entre nós Eucaristia, da qual ninguém pode participar, a não ser que creia serem verdadeiros nossos ensinamentos e tenha se lavado no banho que traz a remissão dos pecados e a regeneração, e vive conforme o que Cristo nos ensinou. De fato, não tomamos essas coisas como pão comum ou bebida ordinária, mas da maneira como Jesus Cristo, feito carne por força do Verbo de Deus, teve carne e sangue por nossa salvação, assim nos ensinou que, por virtude da oração ao Verbo que procede de Deus, o alimento sobre o qual foi dita a ação de graças – alimento com o qual, por transformação, se nutrem nosso sangue e nossa carne – é a carne e o sangue daquele mesmo Jesus encarnado” (Apologia I, 66).
Depois de alguns séculos, a doutrina da transubstanciação foi definida pela Igreja na IV Concílio do Latrão (1215):
“O mesmo Jesus Cristo é sacerdote e sacrifício, cujo corpo e sangue são contidos verdadeiramente no sacramento do altar, sob as espécies do pão e do vinho, pois que, pelo poder divino, o pão é transubstancial no corpo e no sangue, de modo que, para realizar plenamente o ministério da unidade, nós recebemos dele o que ele recebeu de nós” (IV Concílio do Latrão, capítulo 1, A fé católica, in Denziger, 802).
São Tomás de Aquino (1125-1274) explica que nesse sacramento o verdadeiro Corpo e o verdadeiro Sangue de Cristo não é apreendido com os sentidos, mas sim com a fé, que se baseia na autoridade de Deus (cf. Summa theologiae, III, 75, 1; cf. Catecismo da Igreja Católica, 1381).
A definição do dogma da transubstanciação se deu devido a muitas controvérsias, ao longo de muitos séculos, a respeito da presença real de Cristo no Santo Sacrifício do Altar. Muitos fiéis não conseguiram aceitar tal mistério, e alguns começaram a difundir outras doutrinas
Assim, entre os protestantes, notamos as seguintes interpretações:
• Os luteranos pregam a doutrina da consubstanciação, na qual a substância divina coexiste “em, com e sob” as substâncias do pão e do vinho. Afirmam que na Ceia do Senhor as substâncias do pão e do vinho não são alteradas.
• Já os zwinglianos (seguidores dos ensinamentos de Úlrico Zwinglio, reformador suíço) acreditam que o corpo e sangue de Cristo não estão inclusos localmente nos elementos, nem sensivelmente presentes.Crêem que a comunhão é um sacramento que apenas simboliza a morte de Cristo.
• Para os calvinistas, a Eucaristia é um sinal exterior, que representa somente a boa vontade do Senhor para sustentar, confirmar e fortalecer a fé.
Por isso, no século XVI, enquanto as doutrinas protestantes se formavam, a Igreja Católica procurou esclarecer os fiéis e reafirmar o fundamento de sua fé. |
Assim, em 1551, no Concílio de Trento, a transubstanciação foi reafirmada nos seguintes termos:
“Ora, porque Cristo, nosso redentor, disse que aquilo que oferecia sob a espécie do pão (cf. Mateus 26,26-29; Lucas 22, 19s; 1Coríntios 11,24-26) era verdadeiramente seu corpo, existiu sempre na Igreja de Deus a persuasão de que este santo Concílio novamente declara: pela consagração do pão e do vinho realiza-se uma mudança de toda a substância do pão na substância do corpo de Cristo, nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância de seu sangue” (Denziger, 1642).
O termo “transubstanciação” expressa que as substâncias do pão e do vinho são transformadas, verdadeira e permanentemente, no Corpo e Sangue de Cristo. Após a consagração da matéria eucarística vemos, na forma aparente, as espécies do pão e do vinho. Todavia, observamos apenas os acidentes desses alimentos (cor, gosto, quantidade), pois, pelas palavras do sacerdote, na pessoa de Cristo (in persona Christi) e pela invocação do Espírito Santo eles se tornam o Corpo e o Sangue de Cristo. A partir de então, se dá a presença real, verdadeira e substancial de Cristo, com seu corpo, sangue, alma e divindade.
Nós, cristãos católicos, diante do Santíssimo Sacramento do Altar, dobramos nossos joelhos e adoramos o único que é digno de receber a honra, a glória e o louvor, pelos séculos dos séculos, Jesus. Nossa adoração fundamenta-se na Tradição da Igreja, condensada pelo Concílio de Trento, nos seguintes termos:
“Todos os fiéis cristãos devem render, na veneração deste Santíssimo Sacramento, o culto de adoração devido ao verdadeiro Deus... Pois cremos presente nele naquele mesmo Deus de quem o Pai eterno disse, introduzindo-o no mundo: ‘Adorem-no todos os anjos de Deus’ (Hebreus 1,6; Salmos 97,7), a quem os magos adoraram (cf. Mateus 2,11), de quem finalmente a Escritura testemunha que foi adorado pelos Apóstolos na Galileia (cf. Mateus 28, 17)” (Concílio de Trento, sessão XIII – Decreto da Eucaristia, cap. 5, in Denziger, 1643).
O Senhor vem em sua Eucaristia e ali Ele está no meio de nós. Contudo, nela sua presença é velada. Por isso, celebramos a Eucaristia aguardando a bem-aventurada vinda de nosso Salvador Jesus Cristo. Toda vez que a Igreja celebra a Eucaristia ela volta seu olhar para “aquele que vem” (cf. Apocalipse 1,4).
Em sua oração, suspira por sua vinda:
Em sua oração, suspira por sua vinda:
“Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!” (cf. Catecismo da Igreja Católica, 1403-1404; Missal Romano).
(Valdeci Toledo –Mestre em Teologia e editor assistente na editora
Ave-Maria)
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