
Qual de nós não sente o fascínio exercido pelas crianças? A criança, aos nossos
olhos, personifica o mistério da vida em eterna renovação. No frescor dos seus
anos, torna-se o símbolo vivo das nossas expectativas e dos nossos ideais. Nela
projetamos aquela imagem original, obscura e adormecida, escondida dentro de
cada um e que reproduz, em claro-escuro, o nosso eu ideal. Tais sentimentos são
característicos da cultura ocidental e diferem totalmente do antigo modo judaico
de encarar o menino, segundo o qual este é avaliado mais na perspectiva das suas
carências do que sob a luz idealizada da sua carga
simbólica.
Segundo o judaísmo,
só é perfeito o homem que observa a Lei divina, e a criança, desprovida do pleno
uso da razão, ainda não está em condições de fazê-lo. E exatamente na sua
capacidade de assimilar e praticar os preceitos divinos que ela será valorizada.
Assim, será digna de louvor e estima na medida em que antecipar, na infância, as
práticas religiosas da idade adulta.
O pai é o principal
encarregado da formação religiosa dos pequenos, que serão introduzidos na
observância das diversas práticas. Logo que começarem a falar, ele lhes ensinará
a recitação diária do Shemá e da prece das Dezoito Bênçãos, e, quando puderem
caminhar, os levará consigo à sinagoga e, anualmente, ao templo de Jerusalém.
Dessa maneira, passo a passo, o garotinho israelita será conduzido ao pleno
cumprimento da Lei.
Podemos imaginar o
mesmo caminho de iniciação para o menino Jesus. Entretanto, sua experiência de
vida em família deve ter sido excepcional, por vários aspectos. Não só era filho
único, nascido milagrosamente de Maria, como seus pais estavam cientes do
destino misterioso reservado àquela criança. O afeto e, ao mesmo tempo, o temor
com que Maria e José acompanhavam o desabrochar daquela vocação divina
transparecem na grave pergunta da mãe ao filho quando este, aos doze anos,
desviou-se da caravana de peregrinos que retornava de Jerusalém e foi encontrado
no templo: “Filho, por que procedeste assim conosco? Eis que teu pai e eu te
procurávamos cheios de aflição” (Lucas 2,48).
A experiência de
amor familiar vivida por Jesus enquanto menino deve tê-lo marcado profundamente.
Por isso um dia ele pôde ser o único entre os mestres de seu povo a dizer, em
franco contraste com a mentalidade corrente: “Deixai os meninos, e não os impeçais de vir a mim, porque deles é o reino dos céus” (Mateus 19,14), e chegou a propor a criança como modelo ideal daqueles que fazem parte do reino de Deus: “Aquele pois que se fizer pequeno, como este menino, esse será o maior no reino dos céus” (Mateus 18,4).
Moças e rapazes
hebreus não conheciam oficialmente a adolescência. De acordo com o direito
rabínico, passavam diretamente da infância para a maturidade. Isso ocorria no
início da puberdade, aos doze anos para as garotas e aos treze para os meninos.
E significativo que toda a problemática psicológica e pedagógica da idade púbere
não encontre eco na literatura rabínica. Na verdade, suas ressonâncias
emocionais sobre o ânimo dos jovens deveriam ser menos agudas do que em nossos
dias. Hoje existe uma notável separação cronológica entre a maturidade física e
a psíquica: pode-se ser pai ou mãe muito cedo, estando ainda psiquicamente
incapaz de viver como esposo. Essa defasagem entre as duas formas de maturidade
devia ser muito menor para os jovens hebreus. Era normal a garota casar-se aos
doze, treze anos e, até mesmo, tornar-se noiva antes disso. Para os jovens
varões, embora o noivado pudesse ser antecipado, as núpcias eram em geral
contraídas no décimo oitavo ano de vida. Uma antiga tradição fixava as etapas da
vida do rapaz: “Aos cinco anos (começa o estudo da) Bíblia, aos dez anos a
Michna (tradição oral integrada à Lei escrita), aos treze anos (começa a
observar) os preceitos (da Lei)... aos dezoito tem lugar a chuppah (celebração do matrimônio)”
(Michna, Abot
5,21).
Para Jesus, essa passagem quase
automática através das várias fases da juventude terminou antes do casamento. E
certo que Jesus adulto nunca se casou; por outro lado, também é certo que devia
exercer uma atração toda especial sobre o público feminino, pois no seu séqüito
encontramos, ao lado dos discípulos, um grupo de mulheres, por ele acolhidas ou
convertidas, que lhe prestava assistência: Maria, chamada Madalena, Joana,
Susana e “outras muitas” (Lucas 8,2-3). Não se tratava, pois, de uma renúncia
causada pelo desinteresse em relação ao sexo feminino ou por um puritanismo
maniqueísta. Ele tinha consciência de que o plano divino do qual fazia parte
exigia a sua total consagração. Maria e José protegiam como a uma flor aquele
mistério de Deus que crescia na intimidade de sua casa, tendo já experimentado
na virgindade dos próprios corpos a transcendente e radical vocação do
filho.
A oração doméstica de Jesus
Um dos traços mais
característicos do comportamento religioso de Jesus adulto é a sua repetida e
pessoal disposição para a prece. Reiteradamente, após fatigantes jornadas de
pregação ou antes de decisões importantes, recolhia-se, solitário, em oração.
Seja pela relativa freqüência ou pelas formulações particulares, esses momentos
íntimos mostram como o Mestre necessitava de um permanente contato pessoal com
Deus, a quem se dirigia com o tratamento de abba
(pai). Esse tratamento encarna, pelo seu imediatismo e pelo conteúdo
simbólico, a consciência que Jesus tem da sua relação única com Deus; e, no seu
todo, a prece do Mestre é a tradução viva, por atos e palavras, da sua exclusiva
experiência de Deus. Não se deve esquecer, contudo, que o sentimento religioso
particular de Jesus encontrou meios de expressão bastante adequados no seio da
tradição religiosa de seu povo. A concepção de Deus como Pai e do suplicante
como um filho pequeno era comum na devoção judaica da época. O próprio Pai
Nosso, que concentra os ensinamentos de Jesus sobre a oração, tem raízes
profundas nas fórmulas judaicas de oração, podendo-se afirmar que no Pai Nosso
não há um só elemento alheio às preces judaicas ou que nelas não se possa
encontrar.
Explica-se, como
conseqüência natural da sua longa familiaridade com as diversas fórmulas de
prece, que Jesus, exprimindo a sua irrepetível experiência religiosa, se valha
da fraseologia tradicional do culto judaico. Com certeza, ele recorre também a
fórmulas tradicionais, nas suas orações: isso fica evidente, em particular, na
detalhada narrativa da paixão. Além disso, havia assimilado profundamente, desde
a primeira infância, as preces do culto oficial de Israel.
Como o ensino da
oração do Shemá e das Dezoito Bênçãos era obrigatório para todas as famílias, a
partir do momento em que a criança começava a articular as primeiras palavras, o
jovenzinho israelita crescia tendo nos lábios aquelas duas fórmulas e as
associava sem querer às suas primeiras vivências intelectuais e afetivas, isto
é, concretamente, à imagem do pai e da mãe. Assim, a consciência divina, para a
criança, vinha ligada e confundida indissoluvelmente com a experiência vital do
amor materno e paterno, alicerce das sucessivas experiências
pessoais.
O Shemá, assim
denominado em vista da sua primeira palavra hebraica, que significa “escuta!”,
não é propriamente uma prece, mas uma confissão de fé na verdade básica do
judaísmo, ou seja, na unicidade de Deus. Duas vezes por dia, de manhã e à tarde,
o israelita piedoso devia recitar essa declaração de crença no Deus único:
“Escuta, Israel, o Senhor é o nosso Deus, o Senhor é um só. Amarás o Senhor teu
Deus de todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças”. A
unicidade de Deus implica e exige a totalidade do amor. O israelita é
estimulado, dia após dia, durante toda a sua existência, a fazer essa entrega
total de si mesmo a Deus. A prece das Dezoito Bênçãos devia ser recitada três
vezes ao dia — pela manhã, ao meio-dia e à tarde — e não apenas pelas pessoas de
sexo masculino, como estava prescrito para o Shemá, mas também pelas mulheres,
crianças e escravos. Dada a generalidade dessa prescrição. essa oração podia ser
feita nos mais diversos ambientes: na sinagoga, em casa, na rua ou nos campos.
Dentro da sua estrutura singela permitia exprimir os sentimentos dominantes da
devoção judaica. Abria-se com três fórmulas de louvor a Deus, seguidas de doze
súplicas, e se encerrava com três fórmulas de agradecimento. As numerosas
disposições oficiais que acompanhavam a recitação dessa prece contribuíam para
dar-lhe um caráter solene: ela era considerada, junto com o Shemá, como o ato
litúrgico do recolhimento, em contraposição à liturgia comunitária do templo e
da sinagoga. Por isso, exigia-se dó suplicante que estivesse cônscio do Ser
diante do qual se apresentava, que recitasse a fórmula com alegria interior e,
ao mesmo tempo, com reverência. O seu caráter oficial não sufocou o direito de
cada um, no contexto da prece, de expressar os seus pedidos pessoais. Cada uma
das dezoito fórmulas, articuladas segundo uma composição simples, se prestava às
expansões: o suplicante podia deixar falar livremente o
coração.
A versão palestina
das Dezoito Bênçãos chegada até nós é posterior aos primeiros anos de nossa era
(na 12a invocação há uma alusão aos cristãos, denominados
“nazarenos”). É certo, todavia, que é anterior a Cristo, pela sua construção
geral. Não se pode exagerar a importância dessa prece solene na formação da
consciência religiosa do povo judeu.
A própria psicologia
religiosa de Jesus menino deve ter sido profundamente marcada por essa oração:
com ela, aprendeu a sentir-se ligado vitalmente ao seu povo; desde cedo, ela lhe
sugeriu reportar-se a Deus dizendo “Pai Nosso”, e, ainda com base nesse texto,
Jesus rezará, balbuciante, pelo vindouro “reino da casa de Davi” e do seu “justo
messias” (cf. A 14ª invocação).
Além desses textos
essenciais, a devoção judaica conhecia inúmeras invocações ou bênçãos,
distribuídas ao longo do dia. Entre elas, tinham uma importância particular a
bênção do pão e a do vinho no início das refeições. Para o pão, o chefe da
família dizia: “Bendito sois vós, ó Senhor, que faz crescer o pão da terra”; e
para o vinho: “Bendito sejas, á Senhor, rei do universo, que criaste o fruto da
vida”. As numerosas bênçãos, repetidas ao longo do dia juntamente com as outras
duas preces oficiais santificavam a vida cotidiana e formavam a atmosfera na
qual Jesus, como todo pequeno judeu, passou pela sua primeira experiência de
Deus.
Quem tiver a
oportunidade de dirigir-se a Israel, visitando, pela manhã, qualquer vilarejo
perdido na Sarnaria, e percorrendo as suas vielas tortuosas e empoeiradas que
serpenteiam entre as casas modestas, terá a sua atenção atraída por uma
cantilena longínqua oriunda de um dos tantos casebres. E o falar cadenciado e
incessante das crianças na escola: repetem, destacando bem as sílabas, frases
declamadas pelo professor. Assim devia ser o ambiente visual e sonoro das
incontáveis aldeias judias que recobriam de habitações os vales e as colinas da
Galiléia na época de Jesus. O vozerio dos meninos na escola: este era um
componente infalível no cenário da vida da região. Como as jovens na fonte, como
a batida monótona do martelo sobre a bigorna na oficina do artífice, como o
grito repetido das mães, chamando de volta para casa as filhas que se demoravam
com as amigas.
Esse era o clima que
Jesus respirou e assimilou por cerca de trinta anos. A sua personalidade foi
plasmada ao compasso do cotidiano do seu vilarejo, Nazaré. Também aqui havia,
como em toda vizinhança respeitável, uma sinagoga que acolhia a comunidade em
oração aos sábados e que, durante a semana, se transformava em escola para os
meninos do local.
Como todos os de sua
idade, também Jesus, aos cinco ou seis anos, devia enfrentar o afastamento da
intimidade familiar, começando a freqüentar a escola, que, já naqueles tempos,
era considerada obrigatória. Nos primeiros dias, lá chegava conduzido pelas mãos
da jovem mãe (que não completara ainda vinte anos) a qual —como atestam as
fontes judaicas de então — o confiava ao austero mestre. Aprontar os filhos para
a escola era a primeira preocupação do dia para a mãe. Um texto rabínico
registra as repercussões domésticas da freqüência a escola: a mãe se levanta de
manhã cedo, lava o rosto dos meninos “antes de apresentá-los ao professor;
depois, à sexta hora (meio-dia) sai novamente a receber os filhos que deixam a
escola” (Pesikta R.
43).
O pequeno aluno
Jesus, entregue aos cuidados do mestre, era. introduzido desde cedo no
conhecimento do alfabeto hebraico: o professor, com um estilete, escrevia letra
após letra sobre uma pequena tábua recoberta de cera, pronunciando distintamente
o nome de cada uma delas. Aprendidas as letras, passava-se aos exercícios
iniciais de leitura sobre o texto da Bíblia: o professor lia cada palavra de
algum versículo do Levítico — de fato, era aqui que todos deviam começar — e
solicitava que os alunos o repetissem, com ele, em voz alta. Poucas semanas
depois, os meninos recém-acolhidos na escola haviam-se integrado ao grupo dos
veteranos e seguiam com estes o ciclo normal das lições. Estas consistiam, com
exclusividade, no ensino de uma só matéria durante cinco anos: leitura declamada
(e repetida infinitas vezes) da Bíblia hebraica. O professor mostrava um
versículo no manuscrito bíblico aos alunos sentados diante dele; lia-o,
explicava-o e depois mandava que as crianças o repetissem, em coro, muitas
vezes. Dessa maneira, de versículo em versículo, de livro em livro, em cinco
anos se aprendia toda a Bíblia, em especial os seus primeiros cinco livros, cujo
todo forma o “Livro da Lei”, chamado em hebraico Torah. Com esse sistema simples e
direto, Jesus, como seus contemporâneos, aprendeu praticamente de cor as
Sagradas Escrituras. O autor hebreu Flávio Josefo, pouco posterior a Cristo,
assim se expressou a propósito dessa didática de aprendizado, à qual todo judeu
se submetia: “Se um de nós for perguntado sobre a Lei, está pronto a recitá-la
(de cor) mais facilmente do que o próprio nome. Na verdade, nós aprendemo-la
logo que tivemos acesso ao uso da razão e a levamos como que gravada na alma” (Contra Apião, 1118,178). Transcorrido
esse período, sem interrupção para férias, sobre os manuscritos bíblicos, o
garoto Jesus, com dez ou onze anos de idade, passaria a um ciclo superior, com a
duração de dois anos. Essa etapa acarretava um sacrifício ainda maior para a
exuberância infantil. Agora, o comparecimento à escola não se limitava ao
período matutino, como no ciclo primário; mas comportava também uma sessão à
tarde. Além disso, a matéria abordada no segundo ciclo era mais árida e abstrata
com relação à Bíblia. Um novo professor iniciava o escolar no estudo, sempre
mnemônico, das tradições orais que completavam ou interpretavam o “Livro da
Lei”. Eram tradições que remontavam ao próprio Moisés ou que tinham sido
desenvolvidas sucessivamente pelos doutores da Lei. O esforço mental dos alunos
no aprendizado das tradições paternas devia ser notável. Freqüentemente, o
professor, para sofrear a impaciência dos indisciplinados ou para estimular os
renitentes, recorria ao auxílio didático de uma correia.
Era durante esses duros anos de disciplina
física e mental que Jesus “crescia e se fortificava cheio de sabedoria” (Lucas
2,40). Quando, aos doze anos — portanto, no fim do curso escolar —, viajou de
sua cidade até a distante Jerusalém, deixou os doutores do templo maravilhados
“da sua sabedoria e das suas respostas”(Lucas 2,47). Evidentemente, o
evangelista quer salientar que no jovem Jesus se manifestava já uma consciência
messiânica que despontará mais tarde na sua vida pública. Tal consciência não é,
certamente, fruto dos sete anos de estudo na sinagoga de Nazaré. Entretanto, é
significativa a coincidência harmoniosa entre a conclusão do currículo escolar e
a revelação, em Jesus, de uma sabedoria superior.
Aos doze ou treze
anos, findo o curso escolar, o garoto retornava definitivamente para casa e seu
pai devia encaminhá-lo em uma profissão, em geral a sua própria. Só poucos
jovens podiam prosseguir os estudos, ingressando na escola de algum mestre
romano.
Em Nazaré, José
guiou Jesus para o próprio ofício de carpinteiro e o menino retornou à anônima
vida cotidiana, interrompida apenas quando do singular episódio entre os
doutores no templo de Jerusalém. Daí em diante, seria conhecido como “filho do
carpinteiro” (Mateus 13,55), ou como “o carpinteiro” (Marcos 6,3). Mas essa
profissão humilde serviu de pano de fundo, contrastante, para as palavras
divinas, quando chegou a ocasião: “E, indo para a sua pátria, ensinava na sua
sinagoga, de modo que se admiravam e diziam: Donde lhe vêm esta sabedoria e
estes milagres? Porventura não é este o filho do carpinteiro?” (Mateus
13,54-55).
“Lembra-te de santificar o dia de sábado”
Desde a primeira
infância e acompanhado dos pais, o menino Jesus começou a familiarizar-se com os
complicados rituais da sinagoga aos sábados. Mesmo ele, como todas as crianças
deste mundo, deve ter-se impacientado ou distraído diante das intermináveis
orações da assembléia, sobretudo se levarmos em conta que o ofício se iniciava
antes da aurora e findava pouco antes do meio-dia. As preces eram na maior parte
em língua hebraica, difíceis, portanto, de acompanhar, visto que se falava
comumente o aramaico. Algumas eram conhecidas de memória; outras deviam ser
cansativamente aprendidas por mera repetição. A assimilação das orações e dos
ritos durou vários anos, até que chegou o dia em que ele mesmo subiu ao pódio
para ler o trecho escolhido da Tora. Tal cerimônia tinha ocasião quando o garoto
completava treze anos, ao atingir a puberdade; depois disso, era oficialmente
declarado um bar mitzvà, ou seja, um
adulto dedicado à observância de toda a Lei.
Além da reunião na
sinagoga, o sábado devia ser santificado com o repouso, o que obrigava
a antecipar para a
véspera as tarefas indispensáveis. Como o dia santificado ia de pôr-do-sol a
pôr-do-sol, o período útil para a sua preparação era a tarde de sexta-feira.
Assim, desde menino, Jesus auxiliou a mãe Maria nos preparativos para o repouso
sagrado: fazer uma provisão dupla de água, limpar a casa modesta, guardar todos
os instrumentos de trabalho do pai José. Enquanto isso, Maria cozinhava as
refeições do início do sábado (sexta à noite) e do meio dia
seguinte.
Poucos minutos antes
que o sábado tivesse início, o pequeno Jesus, de pé junto à mesa, assistia ao
ritual do acendimento da lâmpada, reservado tradicionalmente às mulheres da
família. Maria acendia a lâmpada e pronunciava uma bênção; aquela chama devia
arder por toda a noite, até o dia seguinte, quando, antes da aurora, a pequena
família se levantava para apresentar-se na sinagoga.
Voltando da sinagoga
no final da manhã, as famílias se reuniam em grupos maiores. Participavam, todos
juntos, de uma refeição comunitária, aberta solenemente com as bênçãos sobre o
pão e o vinho, durante a qual os comensais se entretinham principalmente com
discussões religiosas, encorajando-se reciprocamente na observância da religião
dos antepassados. Encontramos reflexos desses banquetes fraternais, embora com
um elemento essencial novo, na Igreja primitiva.
Vivido nesse
compasso simples e espontâneo, o sábado era uma ocasião de descoberta das coisas
mais importantes da vida. Ficava claro que “não só de pão vive o homem”, mas
também da palavra de Deus, da contemplação serena da natureza, da troca de
afetos entre os amigos e conhecidos, da comunhão pura e direta entre, pai, mãe e
filhos no íntimo da família. Dessa forma, o sábado era uma verdadeira pausa para
o aprimoramento do homem. Assim o viveu também Jesus: primeiro em Nazaré,ao lado
de Maria e José, e depois nas aldeias da Galiléia, em companhia dos discípulos.
Jesus dirá que esse sábado libertador, dedicado ao homem e a Deus, é o caminho
para “ver o Pai”.
Obra
original: “La Storia di Gesù” – Rizzoli Editore S.p.A. – Milão –
1983
No Brasil:
Coleção “Jesus” – JB Indústrias Gráficas – Rio de Janeiro -
1986
Este Texto: Fabrizio Foresti
Professor de Exegese antigotestamentária da Faculdade de Teologia dos
Carmelitas de Roma
Professor de Língua Hebraica do Pontifício Instituto Bíblico de
Roma
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