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sábado, 26 de maio de 2012

Os Anos Anônimos de Jesus


Qual de nós não sente o fascínio exercido pelas crianças? A criança, aos nossos olhos, personifica o mistério da vida em eterna renovação. No frescor dos seus anos, torna-se o símbolo vivo das nossas expectativas e dos nossos ideais. Nela projetamos aquela imagem original, obscura e adormecida, escondida dentro de cada um e que reproduz, em claro-escuro, o nosso eu ideal. Tais sentimentos são característicos da cultura ocidental e diferem totalmente do antigo modo judaico de encarar o menino, segundo o qual este é avaliado mais na perspectiva das suas carências do que sob a luz idealizada da sua carga simbólica.



Segundo o judaísmo, só é perfeito o homem que observa a Lei divina, e a criança, desprovida do pleno uso da razão, ainda não está em condições de fazê-lo. E exatamente na sua capacidade de assimilar e praticar os preceitos divinos que ela será valorizada. Assim, será digna de louvor e estima na medida em que antecipar, na infância, as práticas religiosas da idade adulta.

O pai é o principal encarregado da formação religiosa dos pequenos, que serão introduzidos na observância das diversas práticas. Logo que começarem a falar, ele lhes ensinará a recitação diária do Shemá e da prece das Dezoito Bênçãos, e, quando puderem caminhar, os levará consigo à sinagoga e, anualmente, ao templo de Jerusalém. Dessa maneira, passo a passo, o garotinho israelita será conduzido ao pleno cumprimento da Lei.

Podemos imaginar o mesmo caminho de iniciação para o menino Jesus. Entretanto, sua experiência de vida em família deve ter sido excepcional, por vários aspectos. Não só era filho único, nascido milagrosamente de Maria, como seus pais estavam cientes do destino misterioso reservado àquela criança. O afeto e, ao mesmo tempo, o temor com que Maria e José acompanhavam o desabrochar daquela vocação divina transparecem na grave pergunta da mãe ao filho quando este, aos doze anos, desviou-se da caravana de peregrinos que retornava de Jerusalém e foi encontrado no templo: “Filho, por que procedeste assim conosco? Eis que teu pai e eu te procurávamos cheios de aflição” (Lucas 2,48).

A experiência de amor familiar vivida por Jesus enquanto menino deve tê-lo marcado profundamente. Por isso um dia ele pôde ser o único entre os mestres de seu povo a dizer, em franco contraste com a mentalidade corrente: “Deixai os meninos, e não os impeçais de vir a mim, porque deles é o reino dos céus” (Mateus 19,14), e chegou a propor a criança como modelo ideal daqueles que fazem parte do reino de Deus: “Aquele pois que se fizer pequeno, como este menino, esse será o maior no reino dos céus” (Mateus 18,4).

Moças e rapazes hebreus não conheciam oficialmente a adolescência. De acordo com o direito rabínico, passavam diretamente da infância para a maturidade. Isso ocorria no início da puberdade, aos doze anos para as garotas e aos treze para os meninos. E significativo que toda a problemática psicológica e pedagógica da idade púbere não encontre eco na literatura rabínica. Na verdade, suas ressonâncias emocionais sobre o ânimo dos jovens deveriam ser menos agudas do que em nossos dias. Hoje existe uma notável separação cronológica entre a maturidade física e a psíquica: pode-se ser pai ou mãe muito cedo, estando ainda psiquicamente incapaz de viver como esposo. Essa defasagem entre as duas formas de maturidade devia ser muito menor para os jovens hebreus. Era normal a garota casar-se aos doze, treze anos e, até mesmo, tornar-se noiva antes disso. Para os jovens varões, embora o noivado pudesse ser antecipado, as núpcias eram em geral contraídas no décimo oitavo ano de vida. Uma antiga tradição fixava as etapas da vida do rapaz: “Aos cinco anos (começa o estudo da) Bíblia, aos dez anos a Michna (tradição oral integrada à Lei escrita), aos treze anos (começa a observar) os preceitos (da Lei)... aos dezoito tem lugar a chuppah (celebração do matrimônio)” (Michna, Abot 5,21).

Para Jesus, essa passagem quase automática através das várias fases da juventude terminou antes do casamento. E certo que Jesus adulto nunca se casou; por outro lado, também é certo que devia exercer uma atração toda especial sobre o público feminino, pois no seu séqüito encontramos, ao lado dos discípulos, um grupo de mulheres, por ele acolhidas ou convertidas, que lhe prestava assistência: Maria, chamada Madalena, Joana, Susana e “outras muitas” (Lucas 8,2-3). Não se tratava, pois, de uma renúncia causada pelo desinteresse em relação ao sexo feminino ou por um puritanismo maniqueísta. Ele tinha consciência de que o plano divino do qual fazia parte exigia a sua total consagração. Maria e José protegiam como a uma flor aquele mistério de Deus que crescia na intimidade de sua casa, tendo já experimentado na virgindade dos próprios corpos a transcendente e radical vocação do filho. 

A oração doméstica de Jesus 

 

Um dos traços mais característicos do comportamento religioso de Jesus adulto é a sua repetida e pessoal disposição para a prece. Reiteradamente, após fatigantes jornadas de pregação ou antes de decisões importantes, recolhia-se, solitário, em oração. Seja pela relativa freqüência ou pelas formulações particulares, esses momentos íntimos mostram como o Mestre necessitava de um permanente contato pessoal com Deus, a quem se dirigia com o tratamento de abba (pai). Esse tratamento encarna, pelo seu imediatismo e pelo conteúdo simbólico, a consciência que Jesus tem da sua relação única com Deus; e, no seu todo, a prece do Mestre é a tradução viva, por atos e palavras, da sua exclusiva experiência de Deus. Não se deve esquecer, contudo, que o sentimento religioso particular de Jesus encontrou meios de expressão bastante adequados no seio da tradição religiosa de seu povo. A concepção de Deus como Pai e do suplicante como um filho pequeno era comum na devoção judaica da época. O próprio Pai Nosso, que concentra os ensinamentos de Jesus sobre a oração, tem raízes profundas nas fórmulas judaicas de oração, podendo-se afirmar que no Pai Nosso não há um só elemento alheio às preces judaicas ou que nelas não se possa encontrar.

Explica-se, como conseqüência natural da sua longa familiaridade com as diversas fórmulas de prece, que Jesus, exprimindo a sua irrepetível experiência religiosa, se valha da fraseologia tradicional do culto judaico. Com certeza, ele recorre também a fórmulas tradicionais, nas suas orações: isso fica evidente, em particular, na detalhada narrativa da paixão. Além disso, havia assimilado profundamente, desde a primeira infância, as preces do culto oficial de Israel.

Como o ensino da oração do Shemá e das Dezoito Bênçãos era obrigatório para todas as famílias, a partir do momento em que a criança começava a articular as primeiras palavras, o jovenzinho israelita crescia tendo nos lábios aquelas duas fórmulas e as associava sem querer às suas primeiras vivências intelectuais e afetivas, isto é, concretamente, à imagem do pai e da mãe. Assim, a consciência divina, para a criança, vinha ligada e confundida indissoluvelmente com a experiência vital do amor materno e paterno, alicerce das sucessivas experiências pessoais.

O Shemá, assim denominado em vista da sua primeira palavra hebraica, que significa “escuta!”, não é propriamente uma prece, mas uma confissão de fé na verdade básica do judaísmo, ou seja, na unicidade de Deus. Duas vezes por dia, de manhã e à tarde, o israelita piedoso devia recitar essa declaração de crença no Deus único: “Escuta, Israel, o Senhor é o nosso Deus, o Senhor é um só. Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças”. A unicidade de Deus implica e exige a totalidade do amor. O israelita é estimulado, dia após dia, durante toda a sua existência, a fazer essa entrega total de si mesmo a Deus. A prece das Dezoito Bênçãos devia ser recitada três vezes ao dia — pela manhã, ao meio-dia e à tarde — e não apenas pelas pessoas de sexo masculino, como estava prescrito para o Shemá, mas também pelas mulheres, crianças e escravos. Dada a generalidade dessa prescrição. essa oração podia ser feita nos mais diversos ambientes: na sinagoga, em casa, na rua ou nos campos. Dentro da sua estrutura singela permitia exprimir os sentimentos dominantes da devoção judaica. Abria-se com três fórmulas de louvor a Deus, seguidas de doze súplicas, e se encerrava com três fórmulas de agradecimento. As numerosas disposições oficiais que acompanhavam a recitação dessa prece contribuíam para dar-lhe um caráter solene: ela era considerada, junto com o Shemá, como o ato litúrgico do recolhimento, em contraposição à liturgia comunitária do templo e da sinagoga. Por isso, exigia-se dó suplicante que estivesse cônscio do Ser diante do qual se apresentava, que recitasse a fórmula com alegria interior e, ao mesmo tempo, com reverência. O seu caráter oficial não sufocou o direito de cada um, no contexto da prece, de expressar os seus pedidos pessoais. Cada uma das dezoito fórmulas, articuladas segundo uma composição simples, se prestava às expansões: o suplicante podia deixar falar livremente o coração.

A versão palestina das Dezoito Bênçãos chegada até nós é posterior aos primeiros anos de nossa era (na 12a invocação há uma alusão aos cristãos, denominados “nazarenos”). É certo, todavia, que é anterior a Cristo, pela sua construção geral. Não se pode exagerar a importância dessa prece solene na formação da consciência religiosa do povo judeu.

A própria psicologia religiosa de Jesus menino deve ter sido profundamente marcada por essa oração: com ela, aprendeu a sentir-se ligado vitalmente ao seu povo; desde cedo, ela lhe sugeriu reportar-se a Deus dizendo “Pai Nosso”, e, ainda com base nesse texto, Jesus rezará, balbuciante, pelo vindouro “reino da casa de Davi” e do seu “justo messias” (cf. A 14ª invocação).

Além desses textos essenciais, a devoção judaica conhecia inúmeras invocações ou bênçãos, distribuídas ao longo do dia. Entre elas, tinham uma importância particular a bênção do pão e a do vinho no início das refeições. Para o pão, o chefe da família dizia: “Bendito sois vós, ó Senhor, que faz crescer o pão da terra”; e para o vinho: “Bendito sejas, á Senhor, rei do universo, que criaste o fruto da vida”. As numerosas bênçãos, repetidas ao longo do dia juntamente com as outras duas preces oficiais santificavam a vida cotidiana e formavam a atmosfera na qual Jesus, como todo pequeno judeu, passou pela sua primeira experiência de Deus.

Quem tiver a oportunidade de dirigir-se a Israel, visitando, pela manhã, qualquer vilarejo perdido na Sarnaria, e percorrendo as suas vielas tortuosas e empoeiradas que serpenteiam entre as casas modestas, terá a sua atenção atraída por uma cantilena longínqua oriunda de um dos tantos casebres. E o falar cadenciado e incessante das crianças na escola: repetem, destacando bem as sílabas, frases declamadas pelo professor. Assim devia ser o ambiente visual e sonoro das incontáveis aldeias judias que recobriam de habitações os vales e as colinas da Galiléia na época de Jesus. O vozerio dos meninos na escola: este era um componente infalível no cenário da vida da região. Como as jovens na fonte, como a batida monótona do martelo sobre a bigorna na oficina do artífice, como o grito repetido das mães, chamando de volta para casa as filhas que se demoravam com as amigas.

Esse era o clima que Jesus respirou e assimilou por cerca de trinta anos. A sua personalidade foi plasmada ao compasso do cotidiano do seu vilarejo, Nazaré. Também aqui havia, como em toda vizinhança respeitável, uma sinagoga que acolhia a comunidade em oração aos sábados e que, durante a semana, se transformava em escola para os meninos do local.

Como todos os de sua idade, também Jesus, aos cinco ou seis anos, devia enfrentar o afasta­mento da intimidade familiar, começando a freqüentar a escola, que, já naqueles tempos, era considerada obrigatória. Nos primeiros dias, lá chegava conduzido pelas mãos da jovem mãe (que não completara ainda vinte anos) a qual —como atestam as fontes judaicas de então — o confiava ao austero mestre. Aprontar os filhos para a escola era a primeira preocupação do dia para a mãe. Um texto rabínico registra as repercussões domésticas da freqüência a escola: a mãe se levanta de manhã cedo, lava o rosto dos meninos “antes de apresentá-los ao professor; depois, à sexta hora (meio-dia) sai nova­mente a receber os filhos que deixam a escola” (Pesikta R. 43).

O pequeno aluno Jesus, entregue aos cuidados do mestre, era. introduzido desde cedo no conhecimento do alfabeto hebraico: o professor, com um estilete, escrevia letra após letra sobre uma pequena tábua recoberta de cera, pronunciando distintamente o nome de cada uma delas. Aprendidas as letras, passava-se aos exercícios iniciais de leitura sobre o texto da Bíblia: o professor lia cada palavra de algum versículo do Levítico — de fato, era aqui que todos deviam começar — e solicitava que os alunos o repetissem, com ele, em voz alta. Poucas semanas depois, os meninos recém-acolhidos na escola haviam-se integrado ao grupo dos veteranos e seguiam com estes o ciclo normal das lições. Estas consistiam, com exclusividade, no ensino de uma só matéria durante cinco anos: leitura declamada (e repetida infinitas vezes) da Bíblia hebraica. O professor mos­trava um versículo no manuscrito bíblico aos alunos sentados diante dele; lia-o, explicava-o e depois mandava que as crianças o repetissem, em coro, muitas vezes. Dessa maneira, de versículo em versículo, de livro em livro, em cinco anos se aprendia toda a Bíblia, em especial os seus primeiros cinco livros, cujo todo forma o “Livro da Lei”, chamado em hebraico Torah. Com esse sistema simples e direto, Jesus, como seus contemporâneos, aprendeu praticamente de cor as Sagradas Escrituras. O autor hebreu Flávio Josefo, pouco posterior a Cristo, assim se expressou a propósito dessa didática de aprendizado, à qual todo judeu se submetia: “Se um de nós for perguntado sobre a Lei, está pronto a recitá-la (de cor) mais facilmente do que o próprio nome. Na verdade, nós aprendemo-la logo que tivemos acesso ao uso da razão e a levamos como que gravada na alma” (Contra Apião, 1118,178). Transcorrido esse período, sem interrupção para férias, sobre os manuscritos bíblicos, o garoto Jesus, com dez ou onze anos de idade, passaria a um ciclo superior, com a duração de dois anos. Essa etapa acarretava um sacrifício ainda maior para a exuberância infantil. Agora, o comparecimento à escola não se limitava ao período matutino, como no ciclo primário; mas comportava também uma sessão à tarde. Além disso, a matéria abordada no segundo ciclo era mais árida e abstrata com relação à Bíblia. Um novo professor iniciava o escolar no estudo, sempre mnemônico, das tradições orais que completavam ou interpretavam o “Livro da Lei”. Eram tradições que remontavam ao próprio Moisés ou que tinham sido desenvolvidas sucessivamente pelos doutores da Lei. O esforço mental dos alunos no aprendizado das tradições paternas devia ser notável. Freqüentemente, o professor, para sofrear a impaciência dos indisciplinados ou para estimular os renitentes, recorria ao auxílio didático de uma correia.

      Era durante esses duros anos de disciplina física e mental que Jesus “crescia e se fortificava cheio de sabedoria” (Lucas 2,40). Quando, aos doze anos — portanto, no fim do curso escolar —, viajou de sua cidade até a distante Jerusalém, deixou os doutores do templo maravilhados “da sua sabedoria e das suas respostas”(Lucas 2,47). Evidentemente, o evangelista quer salientar que no jovem Jesus se manifestava já uma consciência messiânica que despontará mais tarde na sua vida pública. Tal consciência não é, certamente, fruto dos sete anos de estudo na sinagoga de Nazaré. Entretanto, é significativa a coincidência harmoniosa entre a conclusão do currículo escolar e a revelação, em Jesus, de uma sabedoria superior.

Aos doze ou treze anos, findo o curso escolar, o garoto retornava definitivamente para casa e seu pai devia encaminhá-lo em uma profissão, em geral a sua própria. Só poucos jovens podiam prosseguir os estudos, ingressando na escola de algum mestre romano.

Em Nazaré, José guiou Jesus para o próprio ofício de carpinteiro e o menino retornou à anônima vida cotidiana, interrompida apenas quando do singular episódio entre os doutores no templo de Jerusalém. Daí em diante, seria conhecido como “filho do carpinteiro” (Mateus 13,55), ou como “o carpinteiro” (Marcos 6,3). Mas essa profissão humilde serviu de pano de fundo, contrastante, para as palavras divinas, quando chegou a ocasião: “E, indo para a sua pátria, ensinava na sua sinagoga, de modo que se admiravam e diziam: Donde lhe vêm esta sabedoria e estes milagres? Porventura não é este o filho do carpinteiro?” (Mateus 13,54-55).

“Lembra-te de santificar o dia de sábado”

 

Desde a primeira infância e acompanhado dos pais, o menino Jesus começou a familiarizar-se com os complicados rituais da sinagoga aos sábados. Mesmo ele, como todas as crianças deste mundo, deve ter-se impacientado ou distraído diante das intermináveis orações da assembléia, sobretudo se levarmos em conta que o ofício se iniciava antes da aurora e findava pouco antes do meio-dia. As preces eram na maior parte em língua hebraica, difíceis, portanto, de acompanhar, visto que se falava comumente o aramaico. Algumas eram conhecidas de memória; outras deviam ser cansativamente aprendidas por mera repetição. A assimilação das orações e dos ritos durou vários anos, até que chegou o dia em que ele mesmo subiu ao pódio para ler o trecho escolhido da Tora. Tal cerimônia tinha ocasião quando o garoto completava treze anos, ao atingir a puberdade; depois disso, era oficialmente declarado um bar mitzvà, ou seja, um adulto dedicado à observância de toda a Lei.

Além da reunião na sinagoga, o sábado devia ser santificado com o repouso, o que obrigava a antecipar para a véspera as tarefas indispensáveis. Como o dia santificado ia de pôr-do-sol a pôr-do-sol, o período útil para a sua preparação era a tarde de sexta-feira. Assim, desde menino, Jesus auxiliou a mãe Maria nos preparativos para o repouso sagrado: fazer uma provisão dupla de água, limpar a casa modesta, guardar todos os instrumentos de trabalho do pai José. Enquanto isso, Maria cozinhava as refeições do início do sábado (sexta à noite) e do meio dia seguinte.

Poucos minutos antes que o sábado tivesse início, o pequeno Jesus, de pé junto à mesa, assistia ao ritual do acendimento da lâmpada, reservado tradicionalmente às mulheres da família. Maria acendia a lâmpada e pronunciava uma bênção; aquela chama devia arder por toda a noite, até o dia seguinte, quando, antes da aurora, a pequena família se levantava para apresentar-se na sinagoga.

Voltando da sinagoga no final da manhã, as famílias se reuniam em grupos maiores. Participavam, todos juntos, de uma refeição comunitária, aberta solenemente com as bênçãos sobre o pão e o vinho, durante a qual os comensais se entretinham principalmente com discussões religiosas, encorajando-se reciprocamente na observância da religião dos antepassados. Encontramos reflexos desses banquetes fraternais, embora com um elemento essencial novo, na Igreja primitiva.

Vivido nesse compasso simples e espontâneo, o sábado era uma ocasião de descoberta das coisas mais importantes da vida. Ficava claro que “não só de pão vive o homem”, mas também da palavra de Deus, da contemplação serena da natureza, da troca de afetos entre os amigos e conhecidos, da comunhão pura e direta entre, pai, mãe e filhos no íntimo da família. Dessa forma, o sábado era uma verdadeira pausa para o aprimoramento do homem. Assim o viveu também Jesus: primeiro em Nazaré,ao lado de Maria e José, e depois nas aldeias da Galiléia, em companhia dos discípulos. Jesus dirá que esse sábado libertador, dedicado ao homem e a Deus, é o caminho para “ver o Pai”.

Obra original: “La Storia di Gesù” – Rizzoli Editore S.p.A. – Milão – 1983
No Brasil: Coleção “Jesus” – JB Indústrias Gráficas – Rio de Janeiro - 1986
Este Texto: Fabrizio Foresti
Professor de Exegese antigotestamentária da Faculdade de Teologia dos Carmelitas de Roma
Professor de Língua Hebraica do Pontifício Instituto Bíblico de Roma


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