Pelo batismo somos todos profetas, reis e sacerdotes. Essa verdade, lembrada nos documentos da Igreja, tem que fazer parte de nossa vida e nossa história. E ao mesmo tempo temos que assumir com mais radicalidade e amor a nossa vocação de batizados e batizadas na Igreja. Essa verdade tem que fazer tão parte de nós que sem ela não somos os mesmos.
A vocação profética, ou a dimensão profética da vocação, deve ser vivida e vivenciada por todos os batizados e batizadas. Fugir dessa realidade é antes fugir de si mesmo, de sua verdade e de seu modo mais originário de ser pessoa, ser humano. É bonito quando nos damos conta de que, em tais situações, quase inconscientes, estamos exercendo nossa profecia.
A profecia do cristão e da cristã parte sempre do modelo mais real e originário de profeta, Jesus. Sua vida, aquilo que mais tocou os corações daqueles que primeiro foram chamados, interpelados, e sua sensibilidade para com a verdade e a justiça deve ser o fio condutor, o gerador de forças e de vida em nós. Pelo chamado Divino, que cada pessoa, na sua mais individualidade e ao mesmo tempo, na sua historicidade, devemos sempre escolher a vida.
Em face do Cristo a pessoa é chamada a realizar a sua conversão fundamental, para nele reassumir todo o seu projeto humano, numa nova dimensão de liberdade. Optar pela própria libertação pela própria realização em Cristo, é optar pelo o Reino. O jovem rico citado pelos os evangelhos sinóticos (Mt, Mc, Lc) queria a participação no Reino sem fazer todo o esforço devido; já observava os mandamentos, coisa de tanto agrado de Cristo que este olhou com especial amor; mas não queria comprometer-se e fazer a necessária opção radical. Esta é muita das vezes a postura de muitos de nós; queremos até seguir Jesus, mas não estamos dispostos a assumir a sua missão, de nos comprometermos com o Reino.
Não podemos esquecer que o Reino, pelo qual optamos, não é construção apenas de Deus, nem muito menos algo já consumado com a primeira vinda de Cristo. É uma obra de colaboração dos homens e mulheres com Deus, até o fim dos tempos. Por isso, tudo aquilo que não condiz com o Reino, ou seja, toda manifestação de ante-reino, deve ser por nós denunciado.
O próprio anúncio do Reino, que cada um é chamado a fazer, já trás em si mesmo a denúncia. Vejamos por exemplo o testemunho dos primeiros cristãos relatado nas cartas de São Paulo, como também, a história dos mártires da América - latina e do Brasil. Na história e na vida desses profetas se fez presente com toda força a ação de Deus em sua Palavra libertadora. Foi inspirados e motivados pela Palavra de Deus que os mesmo encontraram coragem para dizer não a todo projeto de morte.
A opção profética não é feita simplesmente por um capricho pessoal, ou por uma simples postura radical diante dos problemas da sociedade, do mundo. Mas, uma atitude de quem realmente entendeu o sentido ultimo da vocação e da missão. Como costumo dizer, a angústia profética não nasce dos traumas psicológicos que podemos colecionar ao longo da vida ou do trabalho pastoral.
É um carisma, que já se faz presente no âmago de nossa vocação, que o Senhor dá aos seus profetas para que, com sua presença, atitudes e palavras questionem a mediocridade da nossa vida. O profeta não é por sua vontade ou escolha simplesmente e sim porque é chamado e, ás vezes, quase violentado por Deus a aceitar a sua missão.
Não podemos esquecer a exortação feita na Carta aos Ef, 4,1... “Exorto-vos, pois, que leveis uma vida digna da vocação à qual fostes chamados...”, o que nos parece que a nossa vida deve ser tal como a própria vida do Mestre. As nossas opções deve ser as mesmas que o mestre fez. A força para colocarmos em prática essas coisas é a mesma que o Mestre recebeu, vem de Deus.
Não podemos esquecer que Deus continua chamado homens e mulheres para realizar o seu projeto de amor. Chama exatamente através dos acontecimentos da vida, através das necessidades de justiça e fraternidade, através de situações de escravidão, opressão e marginalização de tantas pessoas, através da família, da comunidade, da leitura e da meditação da Palavra, dos encontros vocacionais e de outras maneiras. Deus continua chamando, e através da resposta positiva de muitos homens e mulheres, vai realizando o seu plano de amor.
É verdade que diante do chamado Divino precisamos dá uma resposta coerente. Lembremos também que o Chamado nunca é adocicado. Ou seja, não é assim tão fácil ser fiel ao chamado que Deus dirige a nós. Ele não nos chama para ficarmos parados ou quem sabe, para vivermos uma vocação sem maiores problemas. Muitas são as dificuldades, devido também nossas carências e limitações. Mas também, muitas são as dificuldades que por assumirmos uma postura justa, somos afligidos.
O profeta é na verdade aquele homem e aquela mulher que não aceita e nem colabora com os sinais de morte. É na verdade um inconformado, e por isso, assume uma postura radical perante algumas atitudes desumanas que chegam a ameaçar e até afligir o ser humano, a beleza da criação.
O profeta é uma pessoa extremamente amável e amada. Ao contrário do que muitos afirmam, ele não é uma pessoa rude, sem graça, revoltado, ou sem alegria. Mas devido sua postura, sua radical opção e sua coragem de denunciar ele chega a incomodar algumas pessoas. Pessoas, essas, que não tem compromisso com a vida.
É próprio da missão profética do cristão incomodar. E geralmente quem incomoda, quem tem coragem de denunciar as injustiças e de fazer acontecer e aparecer à verdade, acaba sendo perseguido. O cristão tem que ter essa coragem, tem que assumir com radicalidade essa defesa a vida. Só assim estaremos de verdade dando continuidade à missão do Mestre.
Não vejo como responder uma vocação se a dimensão profética não se faz presente. É constitutiva da vocação a dimensão profética. Por isso, se ainda não assumimos com garra essa dimensão, está mais do que na hora de assumirmos. Para isso não podemos esquecer que é o Espírito de Deus que renova a nossa força. E se o nosso coração estiver fechado, se não temos olhos e ouvidos para ver e ouvir o clamor da humanidade peçamos ao Espírito que venha até nós.
A vida se faz doação, é feliz quem descobre a missão. Por isso faz-se tão necessário o Serviço de Animação Vocacional na Igreja.
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