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segunda-feira, 8 de julho de 2013

A TUA PALAVRA ILUMINA OS MEUS PASSOS






A História está nas Mãos de um Deus
Onipotente, Justo, Paciente
Gênesis c.18

Mambré é um lugar santo pré-israelítico, situado a três km de Ebron a sul da Palestina. O mito da origem de Mambré foi adotado pelo clã de Abraão. O mito dizia que três figuras celestes tinham aparecido ali a uma personagem ilustre da região a quem tinham anunciado o nascimento de um filho como prêmio da hospitalidade que tinham recebido.

v. 2 Ele levantou os olhos e viu... e correu ao seu encontro... Abraão não estava adormecido mas vigilante; apercebeu-se das personagens e intuiu a sua importância. Como sempre, quando se trata das visitas do Senhor, as três personagens apareceram subitamente. Abraão não lhes pergunta quem são ou de onde vêm; é o máximo da hospitalidade típica da hospitalidade beduína.

Seja no Antigo ou no Novo Testamento, a hospitalidade é considerada um grande valor, uma virtude a praticar. ( 2 Re 4, 8-10; Tb 7,1-6; Lev 19,33-34; Mt 25,35; Rm 12,13 e 15,7; 1 Pedro 4,9).

v. 3 As personagens são três, mas Abraão dirige-se-lhes no singular. Os Padres viram nesta anomalia uma referência ao mistério trinitário: o Deus Uno e Trino.

vv. 6-8 ... acorreu... apressou-se... correu... A celeridade no acolhimento de Abraão, que não quer fazer esperar os hóspedes, é importante. O autor enfatiza-o para dizer que Abraão se comporta de maneira exemplar face aos estrangeiros. É digno do dom que lhe será concedido.

v. 10 Eis que Sara tua mulher terá um filho. É o filho da promessa, há muito esperado por Abraão.

vv. 11-12 Para evidenciar o aspecto milagroso do nascimento de Isaac, aparece sublinhada a impossibilidade física de Sara conceber, considerando a sua idade.

v. 13 Por que riu Sara? O comportamento de Sara é reprovado e evidenciada a sua falta de fé, a que ela, por medo, acrescenta uma mentira (v. 15).

v. 14 Porventura é alguma coisa impossível ao Senhor? É o ápice da narrativa. A frase virá retomada pelo arcanjo Gabriel na anunciação a Maria (Lc 1,37) e de Jesus (Mc 10,27).

Se Adonai, o Onipotente, é Deus da história, não existem obstáculos inultrapassáveis para a história da salvação, que veio, vem e virá.

v. 15 A repetição da palavra “rir” está ligada à etimologia do nome de Isaac, que deriva da mesma palavra.

vv. 17-19 É o início de uma nova péricope, inscrita num outro tempo, para sugerir que a aliança/promessa unilateral do capítulo precedente, no desígnio de Deus se torna bilateral, porque Abraão e a sua família são levados a observar a via do Senhor e a agir com justiça (v. 19). Não o fazendo, é bom que se recordem da história de Sodoma e Gomorra que vai ser contada.

Deus chamou Abraão a viver uma relação de intimidade com ele (veja-se Abraão enquanto amigo de Deus em Is 41,8 e 2Cr 20,7; Dn 3,35; Tg 2,23), por isso confia-se a ele e mostra-lhe o seu modo de ajuizar o agir humano. Este juízo normalmente permanece selado, porque intrínseco à realidade, porque está na “lógica das coisas”.

v. 21 Quero descer para ver… Os juízes, nos processos que incluem a pena capital, não podem emitir o veredicto sem terem tomado primeiro uma visão pessoal dos fatos. Neste caso específico, Deus deve ver se não há um só inocente em Sodoma.

vv. 23-33 O princípio que rege a narrativa é o de submeter ao juízo de Deus todo o povo de Sodoma e Gomorra, contando com o testemunho dos justos e a força redentora do bem. O Senhor tinha dito (v.18): nele (Abraão) serão abençoadas todas as nações da terra. Por isso, Abraão, mostrando-se solidário com o seu clã e com a humanidade, quer tentar uma operação de intercessão junto de Deus. Abraão sabe que existe uma inimizade radical entre Deus e o pecado, Deus não o aceita e quer eliminá-lo (Sl 74/75), Abraão tenta dissuadir a reta justiça de Deus. Abraão não sabe que em Sodoma não há nem um justo, o que torna impossível o irromper da graça do perdão.

v. 23 Na verdade exterminarás o justo com o ímpio? É uma clara recusa da punição coletiva, cada pessoa deve ser punida apenas como mereça (Ez 18,19-20).

v. 26 Se em Sodoma encontrar cinquenta justos… perdoarei a toda a cidade. Deus está disposto a mudar o seu veredicto em nome de um pequeno “resto” que permaneça fiel.

Em Deus existe a preponderância da vontade de salvar sobre a vontade de punir.

Um pequeno remanescente de justos, queridos por Deus, que leva avante a história da salvação, não obstante a maldade preponderante, é um tema recorrente em toda a Bíblia . Is 1,7-9 e 10, 20-23; Esd 9,6-9; Bar 2,29-35; Zc 8,10-12.

Abraão negociava com Deus, como costumavam fazer os Beduínos, tentará até dez justos. Está-se preparando assim a estrada que levará à convicção que um só justo poderá salvar a humanidade (Jr 5,1; Ez 22, 29-31). Isaías descrevê-lo-á (53,2-6) e Cristo será esse justo (Act 3,14; 22,14).

v. 27 Eu que sou pó e cinza... Abraão reconhece não ter nenhum direito de negociar com Deus.

A prece de Abraão distingue-se pela insistência, a humildade e a confiança.

Três características que o crente deve ter presentes em cada oração. Seis vezes intercede Abraão sem parar. Disto se recordará Jesus (Lc 11,5-8; 18,1-8).

Na tradição hebraica diz-se que a intercessão é como um tridente na mão do crente, que faz deslocar Deus do trono da justiça para se sentar no trono da misericórdia.


Ana Luísa Teixeira

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