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sábado, 22 de junho de 2013

O PERIGO DO POPULISMO EVANGÉLICO




O populismo enquanto fenômeno político e o jeito populista de go­vernar já são velhos conhecidos de parte da sociedade brasileira, pois desde a era Vargas vêm marcando presença significativa na história do nosso país. O que é relativamente novo neste cenário é um outro fenô­meno que aqui chamaremos de “populismo evangélico”. Na essência, os dois são a mesma coisa, a diferença está na aparência. Isto porque na versão evangélica este populismo aparece em uma embalagem própria para conquistar o público a que se destina.

São essencialmente semelhantes, por ambos se sustentarem e perpetuarem na figura do político carismático que sabe muito bem usar o palanque nos comícios, as câmeras na TV e as ondas no rádio, meio de comunicação de massa ainda muito forte entre as classes mais suscetí­veis a este tipo de apelo. Uma vez eleito, o político populista, evangélico ou não, vai ter na sua prática de governo um comportamento idêntico em um ponto central: o uso da máquina do Estado para promover ações de curto prazo visando a resolver necessidades imediatas dos menos favo­recidos, isto sem criar políticas públicas capazes de, a médio e longo prazo, influenciar na transformação das estruturas socioeconômicas geradoras da nossa desigualdade. Obviamente, os maiores e reais beneficiários destas ações não são sequer aqueles para quem elas teo­ricamente se destinam, mas sim quem as promove quando delas auferem significativo lucro eleitoral.

Este populismo assume uma roupagem evangélica quando a mes­ma habilidade verbal do palanque é usada no púlpito a serviço de uma idéia, que, por assim dizer, é a chave-mestra capaz de abrir as compor­tas do voto evangélico. Refiro-me especificamente ao uso que se faz do corporativismo de classe celebrizado na frase "irmão vota em irmão". Com isto busca-se convencer o eleitorado a escolher um governante tão-so­mente pelo fato de ser evangélico. Ora o discurso populista de caráter puramente assistencialista, que já em si mesmo é extremamente sedu­tor, quando acrescido desta dimensão espiritual dá a este populismo evan­gélico uma combinação com muito poder de voto na disputa eleitoral. Esta é a razão pela qual vai-se vendendo sistematicamente a ilusão de que, por ser o governante um evangélico, Deus naturalmente abençoará o seu governo, transformando tudo pelo poder das orações e a liderança do seu eleito.

Esta falácia pode ser facilmente desmontada ao lembrarmos que, quando escolhemos um governante, os critérios desta escolha são mais amplos do que aqueles usados para escolher um líder religioso de uma igreja. Estamos elegendo alguém convocado pela sociedade para dirigir um povo marcado pela pluralidade, inclusive e principalmente de cren­ças. Não se governa uma cidade, estado ou país simplesmente apresen­tando como única credencial a fé de uma denominação religiosa. Existem ou­tras qualidades que um postulante ao governo de qualquer instância do nosso país deve apresentar, qualidades estas que os políticos represen­tantes deste populismo evangélico fazem questão de não trazer à cena. É exatamente nesta manobra que se verifica a clara instrumentalização da fé com fins puramente eleitorais, quebrando despudoradamente um mandamento bíblico dos mais sagrados, o de não usar o nome de Deus em vão! Importa ainda ressaltar que tais políticos não teriam sucesso não fosse a cooperação dos pastores orientando os seus rebanhos a votarem cegamente no candidato "ungido pelo Senhor". Reedita-se en­tão a histórica relação entre o rei cujo poder político era sustentado pelo poder espiritual do sacerdote!

Infelizmente as igrejas evangélicas como hoje se apresentam é um ter­reno fértil para a proliferação deste populismo. Isto, por ser em sua mai­oria composta por denominações cuja presença maciça se faz sentir nas franjas sociais do nosso país, onde existe uma população marcada pela exclusão social, presa fácil deste esquema político-religioso. Todavia, há uma minoria em meio a esta grande massa disposta a marcar sua posi­ção contrária a esta onda populista, pois enxerga nela graves perigos para a Igreja e para o país!

Eduardo Rosa Pedreira

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