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domingo, 16 de dezembro de 2012

O MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO






Introdução

"Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna" (Jo. 3, 16). Com a encarnação do Filho de Deus começa a nova história em que os homens serão salvos. Iremos refletir (1) - O mistério da Encarnação como início da nova história para a humanidade. (2) - Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, é o Alpha e o ômega de toda a história. Na conclusão exemplificamos a dimensão cristológica e escatológica da espiritualidade nos apóstolos São Paulo e São João.

1 - O mistério da Encarnação marca o início da nova história para a humanidade

- O anúncio a Maria e o seu encontro com Isabel

"Do céu desceu um Anjo, destino Nazaré, para visitar Maria, esposa de José. à saudação celeste Maria recebeu do Anjo esta mensagem: Serás a Mãe de Deus" (cf. Anunciação de Maria - LALAU - LOUVEMOS O SENHOR, 748).

O Mistério da Encarnação se concretiza na jovem Virgem Maria que, em Nazaré, recebe o anúncio de que Deus a escolhera para ser a Mãe do Messias, o Cristo Salvador. Embora perturbada pela inesperada notícia, curva-se obediente à vontade divina, dizendo: " Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo tua palavra!" (Lc. 1, 38). E naquele instante "o Verbo (= o Filho de Deus na Trindade) se fez carne, e habitou entre nós" (Jo. 1, 14), no ventre de Maria. Avisada pelo Anjo de que Isabel, sua parenta, concebera um filho na velhice (e já era o sexto mês para aquela que chamavam de estéril), "Maria pôs-se a caminho" (Lc. 1, 39), para ir ao encontro de Isabel. Entrando na casa de Zacarias, saudou sua parenta. E esta, ao ouvir a saudação de Maria, "a criança lhe estremeceu no ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo. Com um grande grito, exclamou: 'Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre! Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite? Pois quando tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu ventre. FELIZ AQUELA QUE CREU, POIS O QUE LHE FOI DITO DA PARTE DO SENHOR SERá CUMPRIDO!" (Lc. 1, 39 - 45). "Maria permaneceu com ela (Isabel) mais ou menos três meses e voltou para casa" (isto é, a Nazaré - Lc. 1, 52).

São Luís Maria Grignion de Montfort, na sua obra TRATADO DA VERDADEIRA DEVOçãO, traz profunda meditação sobre o Mistério da Encarnação, com grande fundamentação nos Santos Padres da Igreja. Apresenta estes dois princípios: 1º - Deus quis servir-se de Maria na Encarnação; 2º - Deus quer servir-se de Maria na santificação dos homens. Também tira, desses princípios, duas conseqüências: 1ª - Maria é a Rainha dos corações; 2ª - Maria é necessária aos homens para chegarem ao seu fim último (cf. obra citada, ed. Vozes, 19ª edição, Petrópolis, 1992, p. 26 - 61). Jesus, Filho de Deus, desde o momento de sua Encarnação é o Filho de Deus feito homem. Ele, ressuscitado, na sua glória, conserva sua ligação filial a Maria.

Proponho dizermos, meditando, esta oração procedente de Charles de Condren: "ó Jesus, que viveis em Maria. Vinde e vivei nos vossos servos. No espírito de vossa santidade. Na plenitude de vossa força. Na perfeição de vossos caminhos. Na verdade das vossas virtudes. Na comunhão dos vossos mistérios. Dominai a todo poder adverso. No Vosso Espírito para a glória do Pai." Observação: Charles de Condren (1588 - 1614) foi "teólogo católico francês, superior geral do Oratório como sucessor de Berulle. Trocou a carreira militar pelo sacerdócio. Foi confidente de Berulle, participando de seus ideais e de seu espírito. Empenhou-se no trabalho de formação espiritual e intelectual do clero." (Dicionário Enciclopédico das Religiões, verbete CONDREN, CHARLES). O Cardeal Pierre de Berulle é o fundador da Congregação do Oratório francês de Paris. Berulle, Condren, São João Eudes, vivem e atuam uma espiritualidade cristocêntrica que acentua a presença do Verbo Encarnado. João Eudes já põe em evidência o Coração de Jesus e o de Maria. Ainda poderíamos citar São Francisco de Sales e São Vicente de Paulo, ambos com uma espiritualidade profundamente cristocêntrica, aberta para a Santa Mãe de Deus, Mãe do Verbo Encarnado. Em Jesus Cristo nós nos tornamos filhos de Deus - filhos no Filho - e somos chamados a viver o amor: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo. 15, 12).

2 - O Verbo Encarnado é o ALPHA e o ôMEGA

Com a Encarnação do Filho de Deus, "a humanidade já não está condenada a caminhar cegamente, guiando-se por pequenas manifestações de Deus, mas pelo próprio Jesus, manifestação total de Deus. Com efeito, Jesus Cristo, que é a luz, veio para tornar filhos de Deus todos os homens. Um só é o Filho, porém todos podem tornar-se bem mais do que filhos adotivos: nasceram de Deus" (nota à Introdução ao Evangelho segundo São João, em Bíblia Sagrada, Edição Pastoral). Já profetizara Isaías: "O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, e uma luz brilhou para os que habitavam um país tenebroso" (Is. 9, 1)... "Porque nasceu para nós um menino, um filho nos foi dado: sobre seu ombro está o manto real, e ele se chama 'Conselheiro Maravilhoso', 'Deus Forte', 'Pai para sempre', 'Príncipe da Paz'. Grande será seu domínio, e a paz não terá fim sobre o trono de Davi, e seu reino, firmado e reforçado com o direito e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo de Javé dos exércitos é quem realizará isso" (Is. 9, 5 - 6). E evangelista São Mateus, reinterpretando esta profecia, aplica este oráculo à pessoa e ação de Jesus (Mt. 4, 13 - 16). A liturgia da missa da noite de Natal utiliza Isaías 9, 2 - 4. 6 - 7 como primeira leitura na liturgia da palavra.

Jesus Cristo, Filho de Deus Encarnado, assumiu a história humana. Ele anunciou a Boa Notícia da Salvação, que realizou por sua morte e ressurreição. Tal notícia "continua, em todos os tempos e lugares através daqueles que seguem a Jesus" (nota a Mc. 1, 9 - 11, Bíblia Sagrada, Ed. Pastoral). Convém que acolhendo a Palavra de Jesus na comunidade eclesial, atendamos, contemplativos, ao conteúdo deste hino cristológico: "Ele (Jesus Cristo) tinha a condição divina, mas não se apegou à sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens. Assim, apresentando-se como simples homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz! Por isso, Deus o exaltou grandemente e lhe deu o Nome que está acima de qualquer outro nome; para que, ao nome de Jesus, se dobre todo o joelho no céu, na terra e sob a terra; e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai" (Fl. 2, 6 - 11).

Jesus, Filho de Deus feito homem, entrou na história humana; ele nos redimiu da escravidão do pecado e se tornou o modelo para todo ser humano: na comunidade e fora da comunidade. Os que estão à frente da comunidade hão de ser testemunhas para a realização do mundo humano de acordo com o desígnio de Deus. O autor inspirado da Carta aos Hebreus assim orienta os cristãos: "Lembrai-vos dos dirigentes, que lhes ensinaram a Palavra de Deus. Imitai a fé que eles tinham, tendo presente como é que eles morreram" (Hb. 13, 7). Os cristãos sabiam que muitos deram a vida em defesa da fé. E hoje havemos de continuar vivendo a nossa fé cristã como testemunho no meio de uma sociedade freqüentemente desligada do Evangelho: "Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje, e será para sempre" (Hb. 13, 8).

No último capítulo do Apocalipse lemos estas palavras de Jesus dirigidas à assembléia cristã: "Eis que venho em breve, e comigo trago o salário para retribuir a cada um conforme o seu trabalho. EU SOU O ALPHA E O ôMEGA, O PRIMEIRO E O úLTIMO, O PRINCíPIO E O FIM. FELIZES AQUELES QUE LAVAM SUAS ROUPAS PARA TEREM PODER SOBRE A áRVORE DA VIDA, E PARA ENTRAREM NA CIDADE PELA PORTA (Ap. 22, 12 - 14).

Conclusão

O mistério da Encarnação está presente em toda espiritualidade cristã. No Deus feito homem do Novo Testamento está a segunda alma da espiritualidade cristã. "Consiste na visão positiva das realidades terrenas, definitivamente assumidas por Cristo. Nesta direção, surge para o místico cristão a necessidade de amor ao próximo, a necessidade do compromisso com o mundo." A primeira alma da mística do N.T. está na tendência escatológica dos primeiros cristãos. E dois grandes místicos cristãos nós encontramos nos apóstolos Paulo e João. "Paulo fez da união com Cristo o tema fundamental e a aspiração mais profunda de toda sua vida. Esta união se consuma na comunidade cristã, principalmente na Eucaristia.

Mas é sumamente importante considerar a tendência escatológica que anima o pensamento de Paulo: tender à união com Cristo significa para o indivíduo e para a comunidade inteira esperar a sua volta. Somente então se consumará a união de todos em Cristo" (...) Duas linhas fundamentais se podem citar do programa místico de João. No evangelho antecipa a escatologia: a vida eterna já está ao alcance do crente, e isso fundamenta a possibilidade de existência profundamente imbuída do ágape (amor gratuito sob a influência da caridade que vem de Deus), onde o divino se dá com relação convival - eucarística. No apocalipse, a tendência mística olha para além do tempo presente e se converte em espera impaciente da consumação final, em suspiro constantemente elevado que balbucia: 'Vem' (Ap. 2, 17 - 20)"; (A. Giudici, verbete ESCATOLOGIA, in Dicionário de Espiritualidade, E. Paulinas, São Paulo, 1989).

Pe. José Maria Fructuoso Braga

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