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quinta-feira, 9 de maio de 2013

“A FIDELIDADE DA IGREJA EXPRIME-SE NA FIDELIDADE À EUCARISTIA”




A força da Igreja, que a sustenta e transforma, é a certeza de que Jesus está no meio dela, até ao fim. “Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos” (Mt. 28,20). O dom contínuo e abundante do seu Espírito e a Eucaristia, sacramento do seu Corpo entregue e do seu Sangue derramado por nós, são a expressão perene dessa presença amorosa de Cristo na sua Igreja. A verdade da Igreja exprime-se na sua resposta de amor a esta presença do seu Senhor. Nesta celebração litúrgica, a Igreja é convidada a assumir-se como o Povo que o Senhor ama e se sente amado por Ele e vive essa dupla dimensão do amor na fidelidade à Eucaristia, sacramento da sua presença real, celebrando-a e adorando-a.


Guiar-nos-á nessa fidelidade de amor a Palavra que o Santo Padre nos dirigiu, quando esteve entre nós como primeira testemunha da fidelidade da Igreja: “A fidelidade no tempo é o nome do amor, de um amor coerente, verdadeiro e profundo a Cristo Sacerdote”, disse-nos ele. À Igreja de Lisboa proclamou: “é preciso voltar a anunciar com vigor e alegria o acontecimento da morte e ressurreição de Cristo, coração do cristianismo, fulcro e sustentáculo da nossa fé, alavanca poderosa das nossas certezas, vento impetuoso que varre qualquer medo e indecisão, qualquer dúvida e cálculo humano. A ressurreição de Cristo assegura-nos que nenhuma força adversa poderá jamais destruir a Igreja. Portanto a nossa fé tem fundamento, mas é preciso que esta fé se torne vida em cada um de nós. Assim, há um vasto esforço capilar a fazer para que cada cristão se transforme em testemunha capaz de dar conta a todos, e sempre, da esperança que o anima (cf. 1Pd 3,15): só Cristo pode satisfazer plenamente os anseios profundos de cada coração humano e responder às suas questões mais inquietantes acerca do sofrimento, da injustiça e do mal, sobre a morte e a vida do Além”.


E aos nossos jovens o Santo Padre incentivou a esta fidelidade amorosa a Jesus Cristo: “Queridos Irmãos e jovens amigos, Cristo está sempre connosco e caminha sempre com a sua Igreja, acompanha-a e guarda-a, como Ele nos disse: «Eu estou sempre convosco, até ao fim dos tempos» (Mt 28,20). Nunca duvideis da sua presença! Procurai sempre o Senhor Jesus, crescei na amizade com Ele, comungai-O. Aprendei a ouvir e a conhecer a sua Palavra e também a reconhecê-Lo nos pobres. Vivei a vossa vida com alegria e entusiasmo, certos da sua presença e da sua amizade gratuita, generosa, fiel até à morte de cruz. Testemunhai a alegria desta sua presença forte e suave a todos, a começar pelos da vossa idade. Dizei-lhes que é belo ser amigo de Jesus e que vale a pena segui-Lo. Com o vosso entusiasmo, mostrai que, entre tantos modos de viver que hoje o mundo parece oferecer-nos – todos aparentemente do mesmo nível –, só seguindo Jesus é que se encontra o verdadeiro sentido da vida e, consequentemente, a alegria verdadeira e duradoura”


Esta é a certeza da Igreja, desde o início. Comungar o Corpo do Senhor, adorar o Senhor realmente presente na Eucaristia, é responder à sua presença no meio de nós, é anunciar o seu amor perene até ao fim. Dizia São Paulo aos Coríntios: “Todas as vezes que comerdes deste Pão e beberdes deste Cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha” (1Cor. 11, 26-28). Se a Igreja for fiel à Eucaristia, nunca deixará de se sentir amada, viverá da esperança, não soçobrará na tibieza.


Neste dia, quando chega ao seu termo o Ano Sacerdotal, deixando ecoar no mais íntimo de nós mesmos as palavras do Santo Padre, temos de agradecer ao Senhor o dom do Sacerdócio Apostólico. É a mais ousada manifestação de amor pela Igreja, entregar a homens, por Ele redimidos e chamados, o poder de O tornarem presente e de fazerem as suas vezes para continuar a oferecer, pela Igreja e pelo mundo, a sua vida entregue por nós. O Cura de Ars tinha razão ao afirmar que se percebêssemos o mistério do sacerdócio, morreríamos de amor. E fê-lo, porque desejava muito ficar presente, na sua Igreja, até ao fim. Fê-lo por causa da Igreja, fê-lo porque queria estar no Céu e na Terra ao mesmo tempo; fê-lo porque construiu pontes entre o Céu e a Terra. Os sacerdotes existem por causa da Igreja, são a expressão do amor de Jesus Cristo. Eles estão, assim, no âmago do amor de Cristo pela Igreja, o que os convida a tornarem a sua fidelidade a Jesus Cristo num sinal da fidelidade a que toda a Igreja é chamada.


Aos sacerdotes, reunidos em Fátima, o Papa disse: “Neste Ano Sacerdotal, já a caminho do fim, uma graça abundante desça sobre todos vós para viverdes a alegria da consagração e testemunhardes a fidelidade sacerdotal alicerçada na fidelidade de Cristo. Isto supõe, evidentemente, uma verdadeira intimidade com Cristo na oração, pois será a experiência forte e intensa do amor do Senhor que há-de levar os sacerdotes e os consagrados a corresponderem ao seu amor de modo exclusivo e esponsal”. E aos que estão a preparar-se para o sacerdócio, o Santo Padre recomendou: “A Eucaristia, centro da vida do cristão e escola de humildade e serviço, deve ser o objecto principal do vosso amor. A adoração, a piedade e o cuidado do Santíssimo Sacramento, durante estes anos de preparação, farão com que um dia celebreis o Sacrifício do Altar com unção edificante e verdadeira”.


A liturgia deste dia sublinha a síntese espontânea entre celebração da Eucaristia e adoração do Senhor, nela realmente presente. Celebremos adorando; adoremos o que celebrámos. No amor à Eucaristia decide-se a fidelidade da Igreja.


Sé Patriarcal, 3 de Junho de 2010


† JOSÉ, Cardeal-Patriarca

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