Jejuar é não comer nada durante um determinado tempo. As pessoas jejuam por diferentes motivos: uns fazem greve de fome por razões políticas; outros chegam à anorexia na moda; é abstinência na medicina; na religião é uma renúncia, para ser mais agradecidos a Deus e generosos com os outros.
Naquela quarta-feira, chamada de Cinzas, logo de manhã, o Sr. Gaspar abriu o jornal e começou a ler, como era seu hábito. No meio das notícias, viu em letras bem grandes um quadro com a frase: «Se queres passar uma Páscoa alegre e feliz, faz bem a alguém.»
O Sr. Gaspar leu várias vezes estas palavras, sorriu, deu uma palmadinha na perna e disse encantado: «Ora aqui está uma boa ideia!» E com ar resoluto foi até à cozinha, pegou num grande lombo de porco assado e embalou-o muito bem. Depois, dirigiu-se à sua secretária e escreveu num bonito cartão: «Se queres passar uma Páscoa alegre e feliz, faz bem a alguém.» Em seguida, saiu com o pacote e foi até uma casa humilde, que tinha um sapato pendurado na porta. Disse para si: «Aqui mora o velho sapateiro António! Vou fazer-lhe uma surpresa.» Sem barulho, encostou o pacote à porta, bateu com força e… afastou-se rapidamente!
«Que lindo presente! Tão apetitoso!» pensou o sapateiro, deliciado, quando encontrou o lombo do porco. «Será para mim?» Depois leu o cartão e ficou durante algum tempo a meditar naquelas palavras… «Já sei o que vou fazer: ofereço os chinelos que acabei ontem à viúva do meu amigo Mendes.» Guardou o lombo de porco no armário, meteu os chinelos num saquinho, prendeu o cartão e dirigiu-se à casinha da viúva. Pôs o saco no último degrau da escada, chamou, e… foi-se embora.
A idosa senhora abriu a porta, olhou em volta e arregalou os olhos quando viu o saco e leu o cartão. «Quem terá tido esta ideia tão simpática? Também quero fazer uma surpresa a alguém», decidiu imediatamente. Assim, foi para a cozinha fazer um bolo de chocolate pensando nos três meninos, seus vizinhos, a quem tinha morrido a mãe. Quando chegou a casa destes, entrou sem bater e pôs o bolo em cima da mesa. Depois entregou-lhes o cartão: «Se queres passa uma Páscoa alegre e feliz, faz bem a alguém.»
«Que lindo bolo! É mesmo para nós? Muito obrigado!», gritaram os miúdos quando ela ia a sair. O mais velho sugeriu então aos outros: «Antes de o saborearmos, vamos cortar uma parte e levá-la à Quinta de Cima, ao João paralítico. Ele está quase sempre sozinho…» «Vamos!», responderam, entusiasmados, os outros dois. Alegres, subiram a rua, para levar o pedaço de bolo ao João, que passava os dias sentado na cadeira de rodas. Quando lhe disseram a razão por que ali tinham ido, ele achou a ideias muito interessante. Agradeceu muito aquele pedaço de bolo tão bom e comunicou-lhes: «Também eu vou ter uma Páscoa alegre e feliz. Guardo umas migalhas e vou pô-las no peitoril da minha janela, para os passarinhos que aí costumam aparecer.» E assim fez. Passado algum tempo, as avezinhas encontraram o bolo e, depois de comer, nos seus alegres chilreios, pareciam dizer: «Se queres passar uma Páscoa alegre e feliz, faz bem a alguém.»
Redescobrir o jejum
É já sabedoria universal que a felicidade autêntica não provém dos bens que possuímos. Somos felizes quando vencemos o egoísmo e nos abrimos ao amor, o qual, tantas vezes, exige renúncias. O jejum, como a história acima ilustra tão bem, alimenta a felicidade.
Renunciar ao comer ou a um bem pessoal, por pensarmos naqueles que não os têm, torna-nos mais humildes e simples, mais conscientes das fragilidades dos outros e das suas necessidades; torna-nos mais compassivos e compreensivos; mais generosos, alegres e amigos. No fundo, torna-nos mais parecidos com Deus, que é isto tudo em atenção a nós.
Na tradição das religiões, «jejum» é não comer nada. Comer menos é «moderação» e deixar de comer algo é «abstinência».
A Igreja Católica anima os seus fiéis a fazerem jejum, ou, pelo menos, moderação (limitando a alimentação diária a uma refeição) durante a Quaresma – os quarenta dias que antecedem a Páscoa, em memória dos quarenta dias que Jesus jejuou no deserto, antes de iniciar a sua missão salvadora –, e em particular na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira Santa. Também manda fazer abstinência de carne, ou de algo que seja uma verdadeira privação, como bebidas, tabaco, um espectáculo, um bem pessoal…, nas sextas-feiras da Quaresma e, até, todas as sextas-feiras do ano.
Ao fazê-lo, sabe que vai contra a corrente da sociedade consumista, que muito dificilmente aceita os sacrifícios.
Normas
O preceito da abstinência obriga os fiéis a partir dos 14 anos; o preceito do jejum obriga os fiéis com idades compreendidas entre os 18 e os 59 anos. Estão dispensados os doentes, além dos menores de 14 anos e os que tenham mais de 60, as mulheres grávidas e os doentes.
Dicas
A melhor maneira de fracassar o jejum é pretender fazê-lo logo no primeiro dia. O organismo está habituado a um ritmo de alimentação. Diminuindo os alimentos aos poucos, semana a semana, na última já é possível fazer jejum.
O jejum na Quaresma tem a intenção de nos aproximar de Deus. Para isso ajudará que se consagrem à oração os tempos das comidas.
Em terceiro lugar, o jejum está unido à caridade (esmola). O dinheiro que deixámos de gastar com as renúncias pode ser endereçado àqueles em quem pensámos quando jejuámos. As paróquias costumam organizar campanhas às quais se destinam as renúncias quaresmais.
Revista Audácia
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