Qualquer pessoa pode constatar uma realidade fundamental: a existência humana está sempre cercada por perigos e ameaças. O desejo de segurança que nasce desse contexto, quase sempre, esbarra na ilusão e na frustração. A partir de sua situação de fragilidade, o ser humano busca pontos de apoio para encontrar um fundamento sólido sobre o qual construir a sua vida. Com efeito, a fragilidade e a falta de orientação podem fazê-lo precipitar no desespero.
Ele tem um medo terrível de ver sua existência dissolver-se na insignificância e no silêncio do nada! Por isso, procura sua segurança construindo estruturas e buscando poder, cercando-se de todo tipo de muros que o protejam, que o defendam, que o façam sentir-se seguro. Para alcançar esse objetivo, confia em suas conquistas realizadas, muitas vezes, através da opressão e da exploração e, logicamente, para isso, cria todo um sistema para legitimá-las.
Também é capaz de entregar-se à depredação dos mais fracos e empobrecidos, para confiar em sua riqueza que cresce cada vez mais, justa ou injustamente, não importa! São esses alguns traços que caracterizam o homem moderno e a mentalidade contemporânea globalizada? Não necessariamente. Com efeito, tudo isso emerge do pano de fundo do Sl 62. De fato, o autor do salmo coloca o problema do sentido da vida humana pelo contraste entre consistência-inconsistência; solidez (divina)-fragilidade (humana); segurança-insegurança.
A condição humana como tal, situada dentro de um horizonte terrivelmente ameaçador, não passa de sopro; ela é precária, mas o ser humano tem a liberdade de dar sentido à própria vida e tem a responsabilidade de construir o próprio destino. Se o autor, na afirmação central do v. 10 insiste em dizer que “os filhos de Adão, todos juntos, são menos do que um sopro”, não é para expressar uma visão pessimista e radicalmente desesperada da vida, mas, ao contrário, quer enfatizar e exaltar a atitude de confiança na solidez de Deus, rocha, salvação, refúgio/fortaleza (vv.2-3.7-8).
Nele, todo mundo pode confiar. Antes, porém, de transmitir essa atitude que envolve a própria comunidade, o salmista mostra sua experiência pessoal. De um lado, se sente como uma parede inclinada, prestes a ruir (v.4), porque os “perseguidores/inimigos” pressionam para fazê-lo desmoronar, e isso pode acontecer a qualquer momento. As palavras que ele dirige aos “perseguidores” brotam da angústia, da percepção de relações sociais baseadas na hipocrisia (“com sua boca bendizem, dentro deles maldizem”, v.5b) e de uma situação de profunda e amarga decepção.
Do outro lado, não se entrega à ilusão fatal de sua fragilidade, reconhece a pressão que os perigos, as ameaças e as dificuldades exercem sobre ele, sente-se parede inclinada, mas que ainda não caiu, pode até se sentir abandonado ou ferido, mas ainda não está perdido nem vencido. Do fundo de sua aflição, não deixa que as ilusões, as seduções, as falsas aparências (v.5) tomem conta de sua vida. A vida pode estar ameaçada de todos os lados, mas, mesmo assim, é possível encontrar repouso/serenidade:
“Só de Deus vem a minha salvação (v.2) só dele vem a minha esperança” (v.6). É preciso notar que a confiança é o resultado de uma luta anterior, é fruto da “fadiga de viver” (Qo 1,3), e que a salvação/esperança não estão no poder e na riqueza (v.11), mas em Deus, a rocha sobre a qual pode estar solidamente construída a existência humana. Confiar em Deus “forte e leal/fiel” (vv.12s) não significa fugir das decepções da vida para buscar auto-satisfações, mas significa ver a realidade como ela é, sem mentiras e sem enganos, sem lamentações, mas também sem desculpas, pois é dentro dela que Deus manifesta sua “força e fidelidade”.
Sérgio Bradanini
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