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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A Eucaristia nutre a vida sobrenatural





No discurso feito após a multiplicação dos pães, Nosso Senhor afirma com insistência que Ele é o Pão da Vida: "Vossos pais, no deserto, comeram o maná e morreram. Este é o pão que desceu do céu (...) Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo. (...) Minha carne é verdadeiramente uma comida" (Jo 6,49-55).
 
E o Doutor Angélico, numa fórmula que depois o Concílio de Florença consagrou, disse: "Todo efeito que o alimento produz na vida do corpo, a Eucaristia produz na vida sobrenatural; quer dizer, ela a conserva, desenvolve, restaura e deleita" (III, q. 79, a. 1).
 
 
Ela a conserva, preservando-a da morte. Nosso Senhor garante que quem comer desse pão jamais morrerá. Evidentemente, não se trata aqui da vida do corpo, mas da vida da graça na alma, e da morte sobrenatural ocasionada pelo pecado, por isso mesmo chamado de mortal. É dessa morte que a Eucaristia preserva a alma. O Concílio de Trento afirma isso em termos precisos.A Eucaristia não torna essa morte totalmente impossível. Não! O alimento corporal tampouco nos assegura a vida corporal contra todo acidente.
 
Como diz São Tomás, "o efeito da Eucaristia se adapta à condição do homem que a recebe. A matéria sobre a qual se exerce a ação sempre condiciona o efeito produzido nela pela ação. No entanto, a condição do homem nesta vida é tal que seu livre arbítrio pode se inclinar para o bem ou para o mal. Assim sendo, por mais que esse Sacramento tenha, de si, a potencialidade suficiente para preservar o homem de todo pecado, nem por isso quem o recebe deixará de ser livre para pecar, se quiser, e assim morrer sobrenaturalmente".
 
Contudo, notemos bem essa capacidade do Sacramento, em si mesmo, de preservar de todo pecado. Nos alimentos corporais, nada há que se possa comparar à Eucaristia. Os alimentos jamais puderam evitar a morte.
 
Por outro lado, na Eucaristia, é Cristo que, em pessoa, sob as aparências de pão e vinho, dá-Se a nós como alimento. De onde pode nos vir a morte? De uma afeição interna ou de uma ferida exterior. Pelos alimentos e remédios se evitam as enfermidades internas, e pelas armas a pessoa se previne contra os possíveis ataques externos. A Eucaristia cumpre perfeitamente esses dois requisitos. Cristo mesmo, intimamente unido a nosso coração, Se faz nosso alimento e remédio que nos dá vigor e previne contra todo agente morboso de corrupções internas. E revestido, como aqui se encontra, do simbolismo de sua Paixão, por meio da qual o demônio ficou definitivamente vencido, amedronta-o e afasta de nós seus diabólicos ataques. Por isso diz São João Crisóstomo que, à maneira de leões que exalam fogo e chamas pela boca, aterrorizamos os demônios quando recebemos a divina Eucaristia.
 
 
O alimento faz mais que conservar a vida, ele a aumenta. Na vida corporal, esse crescimento é limitado. Contudo, a vida espiritual tem o privilégio de crescer indefinidamente, cada vez mais, pela influência do Pão Eucarístico.
 
Claro que todos os sacramentos de vivos, pelo simples fato de aumentarem a graça, desenvolvem a vida sobrenatural na alma. Mas fazem-no com outro fim específico.
 
A Confirmação dá vigor à alma para poder lutar contra os inimigos externos; a Unção dos Enfermos a sustenta na enfermidade que a priva dos recursos normais na hora mais crítica da vida. A Ordem e o Matrimônio dão a quem os recebe a capacidade de concorrer para o bem geral da Igreja, cada qual em seu estado. Entretanto, a Eucaristia desenvolve a vida sobrenatural por si mesma, a fim de que cresçam cada vez mais em nós as energias divinas e cheguemos à perfeição espiritual pela união com Deus.
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Na união com Deus, nosso último fim, encontramos a perfeição de nosso ser. Essa união terá sua consumada realização na glória celeste, na qual gozaremos da felicidade eterna. Para ela nos encaminha em linha reta a Eucaristia. "Ó Sagrado Banquete, no qual nos alimentamos de Cristo, recorda-se sua Paixão, a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da glória futura!" - canta a Igreja. A Paixão, representada ao vivo na Eucaristia, abriu-nos as portas do Céu. A Comunhão nos aplica a virtude reparadora e regeneradora da Paixão, dando-nos forças para subir o caminho da Cruz, que lentamente conduz o membro de Cristo à glória celeste.
 
Com muita razão damos o nome de viático(*) à Eucaristia, e ela está bem representada por aquele pão que deu ao profeta Elias o vigor necessário para chegar ao cume da montanha de Deus.
 

A Eucaristia é mais que um viático(*).
 
Nesse penhor da vida futura temos já um antegozo da felicidade celestial.
Ainda que misteriosamente, sem dúvida, pela Comunhão temos já em nós o objeto de nossa felicidade eterna, e comemos aquele manjar do qual falava o Anjo Rafael a Tobias: "Eu me nutro de um alimento que vós não conheceis" (Tb 12,19). O Pão dos Anjos veio para ser alimento dos homens, e estes o comem já nesta terra, real, se bem que imperfeitamente, enquanto esperam chegar ao Céu, quando Deus lhes aparecerá e, passando um por um, os irá servindo, sentados todos eles no banquete que faz a felicidade das Três Pessoas Divinas.
 
Nosso próprio corpo ressuscitará para participar também de Cristo, que lhe terá dado um título especial para a vida futura e depositado nele o fermento da imortalidade. Nosso Senhor prometeu formalmente que ressuscitará no último dia todo aquele que tiver comido da sua Carne e bebido do seu Sangue.
 
 
Um terceiro efeito da nutrição além de conservar e desenvolver a vida, é o de restaurá-la, reparando as forças que incessantemente vão se gastando.
O Pão Eucarístico nos restaura também, perdoando os pecados veniais. É o seu antídoto, afirma o Concílio de Trento. Assim, convém comungar com a maior freqüência possível.
 
 
Em quarto e último lugar, quem come desse Pão experimenta em sua alma um bem-estar análogo ao que costuma proporcionar ao corpo uma boa comida.
É um fato comprovado pela experiência. Quantas almas oprimidas pelos trabalhos e sofrimentos tiram da Comunhão matinal a resignação, a serenidade e a alegria!
 
(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2005, n. 48, p. 22 e 23)
 
 
  

(*) Viático 

A palavra viático vem do latim viati¬cum. Significa “provisão para a viagem”. A origem está relacionada com via, caminho. Lembra um longo caminho que está sendo iniciado.
Entre os gregos antigos existia um costume de oferecer um jantar para aqueles que iriam iniciar uma viagem. Após o jantar era oferecida toda a provisão necessária para a viagem: alimentos, dinheiro, roupas e objetos pessoais. Em latim essa prática recebeu o nome de viaticum. Já no início da Igreja a palavra viático ganhou um sentido metafórico, que significa a provisão para a viagem desse mundo ao próximo. É nesse sentido que a palavra é utilizada na liturgia.

Desde o Concílio de Niceia, no ano 325, a Igreja falou da importância do viático como preparação para a passagem para a vida eterna: “Acerca dos que estão para sair deste mundo, se guardará também agora a antiga lei canônica, a saber: que se alguém vai sair deste mundo, não seja privado do último e mais necessário viático” (Cânon 13).

De acordo com o Dicionário de Liturgia (Paulinas, 1992), o viático é “o sacramento da eucaristia dado aos moribundos, aos que estão próximos de passar desta para a outra vida, cumprindo a palavra do Senhor: Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,54).

O Catecismo da Igreja Católica no apresenta o viático, como o “último sacramento do cristão”. Afirma: “Aos que estão para deixar esta vida, a Igreja oferece, além da Unção dos Enfermos, a Eucaristia como viático. Recebida neste momento de passagem para o Pai, a comunhão do Corpo e Sangue de Cristo tem significado e importância particulares. Sacramento de Cristo morto e ressuscitado, a Eucaristia é aqui sacramento da passagem da morte para a vida, deste mundo para o Pai”. (CIC 1524).

O Ritual da Unção dos Enfermos, no número 26, nos diz que o viático deve ser recebido, quando possível, durante a missa, sob as espécies do pão e do vinho, Corpo e Sangue de Cristo. Isso porque o viático é verdadeiramente um sinal especial da participação no mistério celebrado no sacrifício da missa.

O ritual recomenda que a celebração seja iniciada com a aspersão de água, como recordação do batismo. Em seguida é feita a leitura da Palavra de Deus. Quando o doente estiver em condições, renova sua profissão de fé. Depois, o ministro lhe dá a Comunhão e diz: “Ele mesmo te guarde e te conduza à vida eterna”. A celebração termina com a bênção.

Ao terminar esse artigo, quero recordar o exemplo de Santo Ambrósio. O diácono Paulino, companheiro de Ambrósio, escreveu: “Nós o víamos mover os seus lábios. Mas não ouvíamos a sua voz. Demos a ele o Corpo do Senhor. Apenas recebeu o Corpo do Senhor, expirou, levando consigo um bom viático. Assim a sua alma, saciada da virtude daquele alimento, desfruta agora na companhia dos anjos”. (Catequese de Bento XVI, 24 de outubro de 2007).
Pe. Maciel M. Claro 
 

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