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quinta-feira, 12 de julho de 2012

CONFIANÇA EM DEUS





O fundamento da nossa transformação em Cristo radica na necessidade de salvação. Sobre esse fundamento assenta a disposição de mudar. Reconhecer essa necessidade seria infecundo se não lhe acrescentássemos a confiança em Deus, o reconhecimento da mesma levaria-nos ao desespero se não soubéssemos que Deus quer salvar-nos, purificar-nos, encher-nos de vida divina. Para tanto foi que enviou seu Filho Único.

Acrescentando a isto recebemos no Batismo a "fé", uma fé absoluta na mensagem dos Evangelhos.

A confiança em Deus pressupõe uma fé viva nesta mensagem. Tal fé tem que se referir à Onipotência de Deus. Não apenas convencer-se simplesmente de que Deus "tudo pode", mas que Sua Onipotência seja tão real que dissipe qualquer outra realidade incontestável.


Quer em perigos, problemas em solução; quer na impossibilidade de conversão de alguém, quer ante a consciência de nossa miséria que nos faz retroceder, quer sob opressão de nossas próprias culpas, deve sempre permanecer em nós a Suprema Verdade: "Para Deus nada é impossível" (Lc 1, 37).

Primeiramente deve-se ter fé na Onipotência de Deus em relação a nós mesmos. Ao examinarmos nossas misérias e impotência, o peso de nossas culpas que em vão procuramos afastar devemos clamar: "Asperge-me com o hissopo e serei purificado". Mais além ainda havemos de crer também no amor que Deus nos tem em sua infinita misericórdia, na sua vontade de nos salvar: "Quando nos achávamos mortos pelo pecado Deus enviou Jesus Cristo para nos vivificar. (Ef 2, 4). Não apenas quis nos salvar mas também nos chamou para sermos com Ele uma comunidade eterna. Não basta a convicção de que Deus é em si mesmo amor infinito (II Jo 4, 8), temos que sentir-nos amados por Ele. Por mais que possa parecer-nos que Deus ame seres tão indignos como nós, devemos crer firmemente nesse amor que desce até nós, nos faz cair de joelhos em face a tão grande mistério. 

A confiança em Deus envolve, além disso, o que está intimamente relacionado com ela: a fé está intimamente relacionada com ela: a fé no Amor de Deus, onisciente e onipresente. O homem cheio de verdadeira confiança sabe que Deus sempre está por perto mesmo quando se anda longe D'Ele e que Ele não encerra os efeitos do Seu Amor dentro dos limites que lhe são concedidos; acredita que independentemente de dirigir-se a Ele seu amor onisciente e todo poderoso é oferecido por suas mãos. A verdadeira confiança em Deus envolve consciência de que o olhar Dele pode tudo penetrar, de jamais escapar-lhe, de nunca podermos nos afastar D'Ele por mais que se queira (Sl 138, 8).

"Se subo ao céu, lá estás tu, se desço ao inferno, lá estás presente?"
Somos propriedade de Deus e devemos estar convencidos da ineficácia de qualquer tentativa de fugirmos de sua presença por mais que o façamos e por muito que tentemos esconder-nos dos seus olhos – Jer 17,10: "Eu sou o Senhor que perscruta teu coração e experimenta teu íntimo".

Mas temos que saber que Aquele a quem não se pode escapar é a Santidade sem fim, o amor eterno, "a grande doçura da nossa alma" (Laudes de S. Francisco de Assis).
Aquele a quem o salmista diz: "Provai e vede como o Senhor é doce" (Sl 33, 9).
Finalmente, a confiança em Deus compreende a fé em que somos chamados por Deus, quando nos dirige a palavra. As palavras divinas "Eu, Teu Senhor, chamei-te em justiça, peguei-te pela mão e salvei-te" (Is 42, 6) estão sempre presentes no ânimo de quem possui verdadeira confiança em Deus.

Considerar-nos excluídos do interesse de Deus como meros espectadores olhando-O como amor infinito e nós insignificantes e indignos, por falsa modéstia; aceitar ou não a chamada de Deus como se tivéssemos esse direito é falta de fé, pois Ele não só nos ama, como quer ser amado por nós. Também a nós Cristo pergunta três vezes: "Tu me amas?" A misteriosa palavra de Jesus "Tenho sede" é um apelo ao nosso amor que nunca deixa de ecoar.

À fé viva do Evangelho deve-se somar: a) abandonar o terreno em que nos firmamos, que oferece segurança natural para firmar-se em Deus; b) Renunciar a atingir metas por nossos próprios caminhos e passar a esperar tudo da vida sobrenatural. Por isso, a certeza naturalista dos otimistas, a capacidade alimentada pelas forças vitais de nos erguer apesar dos fracassos devem ser diferenciadas da confiança em Deus. Semelhante certeza alimenta-se de raiz encravada em nossa natureza e esta raiz deve ser sacrificada em Cristo".

Os homens que confundem essa segurança em sua própria natureza podem confundir com verdadeira confiança e dizer "Deus é bom e porá tudo em ordem". Em seu otimismo vital olham de soslaio para o arrependimento e temor de Deus e esquecem como é terrível cair nas mãos de Deus vivo (Heb 10, 31).

Não sabemos que nada se pode esperar da nossa natureza? Já experimentou quantas vezes se surpreendeu consigo mesmo, com seus sentimentos, atitudes, pensamentos? 


Deus é muito maior que todos os abismos da debilidade e infidelidade humana.
Quando ofendemos a Deus, se o traímos devemos não fugir D'Ele, mas arrependermo-se e acreditarmos na sua misericórdia. É nesse momento que importa confiar em Deus, a fé na Divina Misericórdia da qual nenhuma culpa pode nos separar definitivamente. Se nosso abismo é profundo, Deus é mais profundo.

Judas não se perdeu por trair Jesus, mas porque no seu desespero duvidou da misericórdia e não confiou n'Ela. Quanto mais profundo é o arrependimento tanto mais brilhante e irremovível tem que ser a fé na Onipotência e misericórdia divina.

Nossa confiança é provada sempre que se reincide nas mesmas faltas, quando os esforços parecem inúteis, nossos afãs religiosos como vãos e duvidamos do auxílio de Deus e nos sentimos abandonados. Quando nos esforçamos honestamente, confiamos na ajuda de Deus, obedecemos à sua chamada e mesmo assim caímos, é o fracasso que nos descontrola e ameaça. Em tais momentos devemos manter íntegra e incondicional nossa confiança em Deus, manter-nos firmes e inabaláveis na idéia de que Ele nos ama e quer nossa felicidade.

O homem cheio de verdadeira confiança em Deus não se atreve a descobrir se Ele o aceita ou abandona, não precisa ratificar isto por experiência.  Está convencido de que tudo o que vem d'Ele só pode ser fruto do amor e que toda situação deve ser considerada a partir deste fundamento.

Se a reincidência no pecado lhe oprime o ânimo, deve buscar a causa dele em si, na sua debilidade e tibieza e agradecerá toda a humilhação que passar, pois lhe faz ver com clareza sua impotência.
Cônscio da inesgotável misericórdia divina recomeçará dizendo: "Sei em quem acreditei" (II Tim 1, 12).
Ao confiar num homem pode-se chegar à decepção, pois ele pode cair e seu amor cessar. Em Deus nossa confiança deve ser absoluta (Sl 116, 2).

Quando uma oração, repetidas súplicas não são ouvidas lembremos que as mesmas são atendidas somente por um único bem: "a salvação eterna". A este bem estão sujeitos todos os outros bens que podem ser concedidos e serem para aquele bem superior. Portanto nunca devemos afirmar que Deus não nos atendeu ou que se apartou de nós e nossa súplica se desvaneceu sem encontrar aceitação. Ao contrário, devemos reconhecer que Deus conhece melhor o que convém à nossa salvação, que a verdadeira intenção de nossa súplica era dirigida à felicidade suprema e que de fato foi escutada com sua "não realização". 

O que no momento nos parece grande infelicidade, mais tarde nos traz como conseqüência enorme ventura. Empenhamo-nos em suplicar de Deus determinado bem e mais tarde temos que lhe agradecer não nos ter atendido. O homem cheio de verdadeira confiança em Deus sabe que suas súplicas a Deus, cujo misericordioso olhar está sempre pousado nele, nunca deixarão de ser ouvidas, que só Deus conhece o que convém e que Sua resposta é sempre resposta do amor Onisciente.

Isto não quer dizer que nada se deve pedir, mas que o façamos humildemente e esperemos da sua benevolência. Não é justo julgar que nossa prece ficou sem resposta se a infinita sabedoria de Deus dispôs as coisas diferente do que imaginávamos. É necessário permanecer inquebrantável nossa fé em que a "resposta de Deus" só pode ser "resposta de amor". Até mesmo na desgraça não se pode duvidar de que aí se esconde o valor autêntico que significa a vontade de Deus e que Sua mão permitiu tudo isso. Nossa visão é limitada e só vemos parcelado tudo (Is 55, 8). "Por que meus pensamentos não são vossos pensamentos nem meus caminhos os vossos caminhos". Importante é lembrar: o sofrimento adquiriu significado novo pela morte de Jesus na cruz.   

Ante toda cruz que nos sobrevier clamemos: "Faça-se a vontade de Deus".
O Evangelho nos convida à confiança no que se refere aos cuidados da vida: "Olhai as aves do céu, não semeiam nem ceifam, nem guardam nos celeiros, contudo o "Pai Celeste as sustenta"; "Não vos preocupeis". Porém é certo que se ficarmos de braços cruzados por preguiça ou leviandade, não devemos aguardar que Deus providencie para que possamos viver.

Não se pode aguardar também por milagre que Deus venha reparar prejuízos ocasionados por nossa insensatez e desleixo.
Se nos apresentar uma obra elevada, entreguemo-nos a ela sem que cuidados e necessidades exteriores sejam esforços e crendo que Deus olhará por tudo que deixamos de fazer por amor dum fim mais nobre. Quem, por prazeres momentâneos desbaratou tudo, não pode aguardar que Deus não lhe faça sentir seus erros.

Quem fez voto de pobreza pode crer que Deus providenciará todo zelo assim como enviou a São Bento um corvo com o alimento no deserto de Subiaco e exclamar: "Deus Providenciará".


Ainda que formos chamados por Deus a uma grande obra, não devemos sentir-nos cheios de total segurança; antes, porém, havemos de procurar força e ânimo na real confiança em Deus. Nossos talentos são dons de Deus e todos os dotes naturais sem ajuda divina seriam ineficazes.

Se nos sentimos longe de Deus ou julgamos estar, mesmo assim a "confiança" deve sustentar nosso amor. 
Acaso Deus nos cumulou de graças para o esquecermos num momento? Pode a aridez presente ofuscar demonstrações da graça de Deus e fazer-nos duvidar da verdade primeira de que Deus nos criou e salvou por amor e de que por obra sua a noite mais escura pode tornar-se luminosa?

Confiança em Deus significa elemento essencial da mudança do homem velho em homem novo, característica essencial de santidade. A total e vitoriosa confiança em Deus é fruto da fé, esperança e do amor. É indício que desaparecemos e que só vivemos em Deus, sinal que revela "revestidos de homem novo, criado segundo Deus em justiça e santidade" (Ef 4, 25). É da confiança em Deus que flui a vitoriosa liberdade dos santos e a paz que o mundo não consegue dar-nos, mas só Cristo.

É mister que esta confiança em Deus vá modelando nossa vida e como o Salmista clamarmos: "Em Ti, Senhor, esperei, jamais serei confundido" (Sl 30, 2). "Tu, meu Deus, tem todo poder, eu tenho a fé, graças a ela é que posso mover a tua mão, meu Deus. Tudo é possível para aquele que crê".


Maria Rita G. Piva
Formadora Geral Comunidade Alpha e Ômega

 

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