Portanto, tendo vós todos rompido com a mentira, que cada um diga a verdade ao seu próximo, pois somos membros uns dos outros. (Ef 4,25)
Os versos despretensiosos de uma canção: “Palavra é a ponte onde o amor vai e vem”. A autenticidade simples dessa frase seria a mesma se dissesse: “Palavra é a ponte onde a verdade vai e vem”. Foi para isso que Deus nos deu também o dom precioso da fala: “A palavra tem por finalidade comunicar a outros a verdade conhecida” (Catecismo da Igreja Católica, n.2485).
A palavra é a ponte, a janela aberta das almas que se comunicam. Deve ser, portanto, o reflexo sincero do que há dentro delas: dos pensamentos, dos conhecimentos, das intenções, do que se sente... Em suma, a palavra tem que ser a tocha que transporte a luz da verdade. Como veremos adiante, algumas vezes poderá ser conveniente e até necessário resguardar, sob o véu do silêncio, algumas verdades que, pelas circunstâncias, poderiam ferir, ser profanadas ou machucar vistas ainda fracas... Mas o que jamais se pode fazer é converter a língua em tocha portadora da fumaça da mentira.
Só Deus é a fonte da verdade, Ele que é a Verdade essencial e absoluta, da qual toda a verdade é apenas o resplendor. Cristo, Deus feito homem, é, em si mesmo, a Verdade (Jo 14, 6), a luz verdadeira que [...] ilumina todo o homem (Jo 1, 9). Aos primeiros cristãos, diz São Paulo: Em tempos, éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Procedei como filhos da luz, pois o fruto da luz consiste em toda a sorte de bondade, de justiça e de verdade (Ef 5, 8-9).
E São João, escrevendo a Gaio: Alegrei-me muito com a vinda dos irmãos e com o testemunho que deram da tua verdade, de como andas na verdade. Não tenho maior alegria do que ouvir dizer que os meus filhos caminham na verdade (3 Jo, 3-4).
A verdade é o terreno de Deus: tanto a verdade sobre o ser e o sentido de Deus, do mundo e do homem, como a verdade no fundo do coração (Sl 51, 8), isto é, a sinceridade nos pensamentos e nas palavras. Entende-se, por isso, que uma das mais sentidas recriminações de Cristo aos seus opositores fosse: Agora procurais tirar-me a vida, a mim que vos falei a verdade (Jo 8, 40).
Se a verdade é o terreno de Deus, a mentira é o território do diabo. Todo aquele que foge da verdade, que a odeia, que a encobre, que a macula mentindo, está no terreno do “príncipe das trevas”. Têm uma força tremenda as palavras dirigidas por Jesus a uns corações obcecados pela soberba e obstinados em rejeitar a verdade: Vós tendes como pai o demônio e quereis fazer os desejos do vosso pai. Ele era homicida desde o princípio [pois introduziu no mundo a morte das almas e dos corpos, enganando os nossos primeiros pais] e não permaneceu na verdade, porque a verdade não está nele. Quando diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira (Jo 8, 44).
Estas palavras de Cristo colocam-nos perante uma realidade sombria, que não é possível ignorar. Se Deus é luz e nele não há treva alguma (1 Jo 1, 5), se Cristo é a luz verdadeira que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem (Jo 1, 9), o diabo, pelo contrário, é o pai da mentira, a tal ponto que a mentira é “o que lhe é próprio”, o seu sinal característico.
Estas palavras de Cristo colocam-nos perante uma realidade sombria, que não é possível ignorar. Se Deus é luz e nele não há treva alguma (1 Jo 1, 5), se Cristo é a luz verdadeira que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem (Jo 1, 9), o diabo, pelo contrário, é o pai da mentira, a tal ponto que a mentira é “o que lhe é próprio”, o seu sinal característico.
Mas o “pai da mentira” é destro no ofício de mentir. Raras vezes sugere grossas mentiras sem máscara. Pode ser que lhe poupem esforços os homens já embotados pelo mal e proclives a admitir facilmente qualquer falsidade. Mas o habitual é que o diabo atue na penumbra. Costuma operar deixando entrever equívocos, que apresentam a mentira com aparências de verdade. O Maligno gosta do nevoeiro, onde todo o perfil é ambíguo, toda a sombra pode ser “interpretada” e todo o vulto pode ser posto em dúvida. É no caldo de cultura da ignorância, da dúvida, das impressões subjetivas (“eu não acho”, “para mim é...”) e do relativismo (“nada é verdadeiro, tudo é relativo”) que o diabo cria cuidadosamente a sua filha predileta, a mentira. Tudo na neblina, nada na luz clara, diáfana, precisa, pois esse é o campo da Verdade. Por isso, Satanás não se cansa de sussurrar, com ar de sapiência: – “Tudo pode ser verdade, porque cada qual faz a «sua» verdade”.
Na realidade, dizer que tudo é verdade é exatamente a mesma coisa que dizer que nada é verdade ou que não existe nenhuma “verdade verdadeira”.
Na realidade, dizer que tudo é verdade é exatamente a mesma coisa que dizer que nada é verdade ou que não existe nenhuma “verdade verdadeira”.
Do livro "A LÍNGUA" de FRANCISCO FAUS
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