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quinta-feira, 28 de junho de 2012

A PARTICIPAÇÃO DOS ANJOS NA HISTÓRIA DA SALVAÇÃO






1. Deus criou desde o principio ambas as realidades: a espritual e a corpórea, o mundo material e o mundo angélico. 
 

2. Os anjos não têm "corpo" (embora em determinada circunstâncias se manifestem sob formas visíveis, em virtude da sua missão a favor dos homens), e por conseguinte não estão sujeitos à lei da corruptibilidade que é comum a todo mundo material.
 

3. Os anjos são dotados de intelecto e de vontade livre, como o homem, mas em grau superior ao dele, embora sempre finito.
Os anjos são, pois, seres pessoais e, como tais, também eles, criados à "imagem e semelhança" de Deus.

A Sagrada Escritura refere-se aos anjos, usando também apelativos não só pessoais (como os nomes próprios Rafael, Gabriel, Miguel), mas também coletivos (como as classificações de: Serafins, Querubins, Tronos, Potestades, Dominações, Principados), assim como faz uma distinção entre Anjos e Arcanjos. Estes seres-pessoas, quase agrupados em sociedade, se subdividem em ordens e graus, correspondentes à medida da sua perfeição e às tarefas que lhes estão confiadas.

Os autores antigos e a própria liturgia falam também dos coros angélicos (nove, segundo Dionísio, o Areopagita).
 

4. O tema dos anjos poderá parecer "distante" ou "menos vital" à mentalidade do homem moderno.Todavia, a Igreja, propondo com franqueza a totalidade da verdade acerca de Deus Criador também dos anjos, crê que presta um grande serviço ao homem.
 

5. A Sagrada Escritura e a Tradição chamam propriamente anjos, àqueles espíritos puros que na prova fundamental de liberdade escolheram Deus, a sua glória e o seu reino. Eles estão unidos a Deus mediante o amor consumado que nasce da visão beatífica, face a face, da Santíssima Trindade.
 

6. Ainda segundo a Revelação, os anjos que participam da vida da Santíssima Trindade na luz da glória, são também chamados a ter a sua parte na história da salvação dos homens, nos momentos estabelecidos pelo desígnio da Divina Providência. Disse Jesus (Lc 12,8-9) —"Todo aquele que se declarar por mim diante dos homens, também o Filho do Homem se declarará por ele diante dos anjos de Deus. Aquele, porém, que me tiver negado diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus". Estas palavras são significativas, porque se os anjos tomam parte no juízo de Deus, estão interessados pela vida do homem. 
 

7. A Igreja confessa a sua fé nos anjos da guarda, venerando-os na liturgia com uma festa própria, e recomendando o recurso à sua proteção com uma oração freqüente, como na invocação do "Anjo de Deus".
 

8. A Igreja honra com culto litúrgico três figuras de anjos, que na Sagrada Escritura são chamados por nome. O primeiro é Miguel Arcanjo (cf. Dn 10, 13-20; Ap 12,7; Jd 9); O seu nome exprime sinteticamente a atitude essencial dos espíritos bons. "Mica-El", significa, de fato: "Quem como Deus?"
O Segundo é Gabriel: figura ligada, sobretudo, ao mistério da encarnação do Filho de Deus (cf. Lc 1,19-26). O seu nome significa: "O meu poder é Deus" ou "poder de Deus". Finalmente, o terceiro Arcanjo, chama-se Rafael. "Rafael" significa: Deus Cura.


A Queda dos Anjos Rebeldes
 

9. O evangelista Lucas, no momento em que os discípulos voltavam ao Mestre cheios de alegria pelos frutos recolhidos no seu tirocínio missionário, Jesus pronuncia uma frase que faz pensar: "Eu via Satanás cair do céu como um raio" (Lc 10,18). Com estas palavras, o Senhor afirma que o anúncio do reino de Deus é sempre uma vitória sobre o diabo, mas ao mesmo tempo revela que a edificação do Reino está continuamente exposta às insídias do espírito do mal.
 

10. Esta "queda", que apresenta o caráter da rejeição de Deus com o conseqüente estado de "danação", consiste na livre escolha por parte daqueles espíritos criados, que radical e irrevogavelmente rejeitaram Deus e seu reino, usurpando os direitos soberanos de Deus e tentando subverter a economia da salvação e a própria ordem da criação inteira.
O espírito maligno tenta insuflar no homem a atitude de rivalidade, de insubordinação e de oposição a Deus.
 

11. No Antigo Testamento, a narração da queda do homem, apresentada no livro do Gênesis, contém uma referência à atitude de antagonismo que Satanás quer comunicar ao homem para o levar à transgressão (Gn 3,5).
 

12. A Igreja, no IV Concílio de Latrão (1215), ensina que o diabo (ou Satanás) e outros demônios "foram criados bons por Deus, mas tornaram-se maus por sua própria vontade".
 

13. Vários textos (2 Pd 2,4; l Jo 3,8) ajudam-nos a compreender a natureza e a dimensão do pecado de Satanás, consistente na rejeição da verdade acerca de Deus, conhecido à luz da inteligência e da revelação como Bem infinito, Amor e Santidade Subsistente, rejeitando a verdade conhecida acerca de Deus como um ato da própria vontade livre, Satanás torna-se "mentiroso" cósmico e "pai da mentira" (Jo 8,44).
 

14. Satanás, torna-se segundo São João — também "assassino", isto é, destruidor da vida sobrenatural.
 

15. Como efeito do pecado dos progenitores, este anjo caído conquistou em certa medida o domínio sobre o homem. Esta doutrina confirmada pelo Concílio de Trento encontra dramática expressão na liturgia do batismo, quando ao catecúmeno se pede para renunciar ao demônio e às suas tentações.
 

16. O domínio e o influxo de Satanás e dos outros espíritos malignos abrange todo o mundo. A ação de Satanás consiste, primeiro que tudo, em tentar os homens ao mal, influindo na sua imaginação e nas suas faculdades superiores para as orientar em sentido contrário à lei de Deus. Satanás põe à prova até Jesus (cf. Lc 4,3-13), na tentativa extrema de contrastar as exigências da economia da salvação como Deus a estabeleceu.

Não é para excluir que em certos casos o espírito maligno chegue até ao ponto de exercer seu influxo não só sobre as coisas materiais, mas também sobre o corpo do homem, pelo que se fala de "possessos de espíritos impuros".

Nem sempre é fácil discernir o que de preternatural acontece nestes casos, nem a Igreja condescende ou secunda facilmente a tendência a atribuír muitos fatos a intervenções diretas do demônio; mas em princípio, não se pode negar que, na sua vontade de prejudicar e de levar para o mal, Satanás possa chegar a esta extrema manifestação da sua superioridade. 
 
 
17. A habilidade de Satanás no mundo está em induzir os homens a negarem a sua existência em nome do racionalismo e de cada um dos outros sistemas de pensamento que procuram todas as escapatórias, para não admitir a obra do demônio. Isto não significa, porém, a eliminação da vontade livre e da responsabilidade do homem e nem sequer a frustração da ação salvífica de Cristo. Trata-se antes de um conflito entre as forças obscuras do mal e as forças da Redenção.

Por isso, compreendemos o motivo por que Jesus, na oração que nos ensinou, o "Pai-nosso", que é a oração do Reino de Deus, termina quase bruscamente, ao contrário de muitas outras orações do seu tempo, recordando-nos a nossa condição de expostos às insídias do maligno. O cristão, fazendo apelo ao Pai com o espírito de Jesus e, invocando o seu Reino, brada com a força da fé: não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, do maligno.


A Vitória de Cristo sobre o espírito do Mal
 
 
18. A fé da Igreja nos ensina que o poder de Satanás não é infinito. Ele é só uma criatura, poderosa enquanto puro espírito, sendo sempre uma criatura com os limites da criatura, subordinada ao querer e ao domínio de Deus.

Se Satanás opera no mundo mediante o seu ódio contra Deus e o seu Reino, isto é permitido pela Divina Providência que com poder e bondade, dirige a história do homem e do mundo. Se a ação de Satanás, sem dúvida, causa muitos danos — de natureza espiritual e indiretamente também de natureza física — aos indivíduos e à sociedade, ele não está, contudo, em condições de anular a definitiva finalidade para que tendem o homem e toda a criação, o Bem.
 

19. Toda a história da humanidade se pode considerar em função da salvação total, na qual está inscrita a vitória de Cristo sobre o "príncipe deste mundo" ( Jo 12,21; 14,30; 16,11).
 

20. Os cristãos sabem que são chamados a lutar pelo definitivo triunfo do Bem.
A luta, à medida que se aproxima do seu termo, torna-se, em certo sentido, cada vez mais violenta, como põe em relevo de modo especial o Apocalipse (Ap 12). Mas precisamente este livro acentua  a certeza que nos é dada por toda a a Revelação divina: isto é, que a luta se  concluirá com a vitória do bem.
 

21. Nestas considerações que fizemos, fomos iluminados acerca de um dos  maiores problemas que inquietam o homem e penetram a sua busca da verdade: o problema do sofrimento e do mal. Na raiz, não está uma decisão de Deus errada ou má, mas a sua escolha e, de certo modo, o seu risco, de nos criar livres para nos ter como amigos.

Da liberdade nasceu também o mal. Mas Deus não se rende, e com a  sabedoria transcendente, predestinando-nos para sermos seus filhos em Cristo, tudo dirige com fortaleza e suavidade, para que o bem não seja vencido pelo mal.

Recebemos uma verdade que deve estar presente para todo o cristão: que existem espíritos puros, criaturas de Deus, inicialmente todas boas, e depois por uma escolha de pecado, separadas irredutivelmente em anjos de luz e anjos de trevas. E enquanto a existência dos anjos maus requer de nós sentido da vigilância para não cair na suas tentações, estamos certos de que o vitorioso poder do Cristo Redentor circunda a nossa vida, a fim de que nós próprios sejamos vencedores. Nisto somos validamente ajudados pelos anjos bons, mensageiros do amor de Deus aos quais nós, ensinados pela tradição da Igreja, dirigimos a nossa oração: "Santo Anjo do Senhor, meu zeloso e guardador, pois a ti me confiou a piedade divina, hoje e sempre, governa-me, rege-me, guarda-me e ilumina-me Amém".

AUTOR: Beato João Paulo II

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