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segunda-feira, 7 de maio de 2012

A humildade Cristã

Toda virtude é uma conquista necessária através de um exercício amplo decorrente da liberdade de cada um. Traz consigo sempre felicidade e crescimento espiritual. Entre elas a fundamental qualidade cristã que é a humildade. Seu efeito maravilhoso foi proclamado por Cristo :"Porque todo aquele que se exaltar será humilhado, e todo aquele que se humilhar será exaltado" (Lc 14,11). Nesta sentença está a condenação da soberba, mãe de todos os vícios. Para compreender a humildade e apreciar seu imenso valor é preciso que o cristão se situe como criatura diante do Criador. Consciência de sua dependência ontológica de Deus, Ser Necessário, sendo todos os demais seres contingentes, pois existem, mas poderiam não existir. Como ensina a Bíblia, "Nele é que temos a vida, o movimento e o ser" (At 17,28).

Isto significa ter o senso do divino e do humano. Como proclamou o Apóstolo Tiago, “Todo dom vem do alto e desce do Pai das luzes (Tg 1,17). Daí a lição sublime de São Paulo: “E, se recebeste, por que haverias de te ensoberbecer como se não o tivesses recebido?”(1 Cor 4,7). Eis a razão pela qual a humildade é a virtude cristã por excelência. Longe de infantilizar o ser pensante ela o leva a uma aliança com o Todo-Poderoso Senhor. Coloca-se o batizado nas antípodas da atitude do orgulhoso, crispado na afirmação de si mesmo numa oposição a Deus e aos outros. A humildade torna o cristão receptivo e é um princípio de generosidade, de disposição para o serviço. O orgulho bloqueia o homem nos limites estreitos de seu pequeno “eu”.

A humildade abre cada um à dimensão mesma de Deus. O humilde, não obstante as tentações, as dificuldades da peregrinação terrestre, avança pelo caminho da excelência de vida e da santidade. Torna-se, por isto mesmo, o artesão da paz consigo, com os outros e com Deus. É que o humilde coloca em prática a diretriz do Eclesiástico: “Humilha-te entre as grandeza do mundo e acharás misericórdia junto a Deus” (Eclo 3,18). De fato, a empáfia, a altivez, a embófia tudo transtorna. O humilde na alheta do Apóstolo Pedro se reconhece repleto de falhas:“Sou um homem pecador” (Lc 5,8). O humilde reconhece que somente Deus é santo e perfeito e onde está o ser humano há erros e desvios a serem corrigidos. Modelo excelso de humildade foi Maria a qual, não obstante cumulada de graças extraordinárias, exclamou:“O Senhor olhou para a humildade de sua serva”. Aliás todo o seu cântico é um poema de exaltação à grande virtude (Lc 1,46-55). O humilde “descansa no Senhor e nele espera” (Sl 36,7).

Jesus deu o exemplo e aconselhou: "Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas" (Mt 11,29). São Paulo decodificou a humildade do Mestre divino e pode asseverar:“ Tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus. Ora ele subsistindo na natureza de Deus, não julgou o ser igual a Deus um bem a que não devesse nunca renunciar; mas despojou-se a si mesmo, tomando a natureza de servo, tornando-se semelhante aos homens [...] humilhou-se, fazendo-se obediente até à morte, e à morte de cruz. E por isso Deus o exaltou e lhe deu o nome que está acima de todo o nome” (Fp 2, 5-10). Cristo é o protótipo do homem humilde e seu discípulo O deve imitar. A humildade liberta o cristão da auto-suficiência, afastando-o da idolatria de si mesmo. Sai de seu egoísmo e pode então louvar e bendizer a Deus e servir os irmãos. Evita todo tipo de confrontação e comparação, valorizando os méritos alheios. O humilde se submete aos Mandamentos de Deus e da Igreja, dado que está capacitado a renunciar à sua própria vontade e de aderir à de Cristo.

Disto resulta uma profunda alegria, mesmo porque o orgulho não produz senão inquietação e insatisfação, conduzindo a uma subjetividade doentia. Este egocentrismo leva a enquadrar os outros e até Deus nas categorias mentais próprias. Aí está o motivo pelo qual o orgulhoso se deixa levar pela revolta, cólera, pela inveja, pelo desprezo do próximo. O orgulho é um eco da primeira incoerência do homem que quis se colocar acima de Deus e a conseqüência foi a perda da amizade do Criador e da harmonia consigo e com os outros. Cumpre, por tudo isto, aprender a ser humilde a cada dia, sobretudo através da oração que já é em si um ato de humildade.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

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